
04 jun Descoberta da receita do Azul Egípcio orienta aplicações científica atuais
Primeiro pigmento sintético de que se tem notícia, o Azul Egípcio constituía, até agora, um segredo perdido há milênios. Embora parcialmente redescoberto no século 19, quando se comprovou que a cuprorivaíta era seu principal componente, os detalhes sobre a composição, temperatura e tempo de resfriamento que afetavam a cor permaneceram desconhecidos.
Por isso, o artigo “Avaliação da variabilidade do processo e da cor em pigmentos azul egípcio sintetizados e antigos”, publicado recentemente na revista npj Heritage Science, pode ser considerado um marco significativo na compreensão e recriação da cor que era o “azul Pantone” oficial da 1ª Dinastia do Egito, no tempo de Narmer, por volta de 3100 a.C.
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Trabalhando em conjunto, pesquisadores da Universidade Estadual de Washington (WSU), do Museu Carnegie de História Natural e do Instituto de Conservação do Museu Smithsonian desenvolveram 12 fórmulas diferentes para o pigmento, fornecendo dados valiosos para arqueólogos e cientistas da conservação sobre os métodos e a composição química dessa cor.
Como os pesquisadores descobriram a receita do Azul Egípcio?
Pesquisadores descobriram que o resfriamento lento do preparo produziu cores mais vibrantes e intensas. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Para o primeiro autor do artigo, John McCloy, professor e diretor da Escola de Engenharia Mecânica e de Materiais da WSU, o importante estudo “começou como algo divertido de fazer porque nos pediram para produzir alguns materiais para expor no museu, mas há muito interesse no material”, afirmou ele em comunicado.
Na replicação genérica do pigmento, que foi criado como um “genérico” para substituir minerais caros como lápis-lazúli e turquesa, os pesquisadores combinaram dióxido de silício, cobre, cálcio e carbonato de sódio — ingredientes disponíveis aos artesãos egípcios — e aqueceram as misturas a 1.000 °C entre uma e onze horas, respeitando as limitações dos fornos antigos.
Após o aquecimento, testaram diferentes velocidades de resfriamento dos lotes pigmentados. A descoberta revelou que o resfriamento lento produzia tons de azul significativamente mais vibrantes e intensos. Esta técnica explica como os antigos egípcios conseguiam obter as tonalidades azuis características que observamos atualmente em suas obras artísticas.
Descobertas inéditas sobre o antigo Azul Egípcio
Autores examinam um sarcófago antigo pintado com pigmento azul egípcio. (Fonte: Universidade Estadual de Washington/Divulgação)
A descoberta que mais impressionou os pesquisadores, foi que o tom azul intenso desejado não exige 100% de cuprorivaíta cristalina. Para surpresa de todos, apenas 50% dos componentes azuis são necessários para produzir a coloração característica. O achado mostrou que a fórmula antiga é mais complexa do que somente uma suposta composição uniforme.
As análises por espectrometria, difração de raios X e fotoluminescência infravermelha revelaram uma microestrutura altamente complexa no pigmento. Cada grão contém fases intercaladas de cuprorivaíta, vidro de sílica, wollastonita e óxido de cobre. Em outras palavras, o azul egípcio é um material heterogêneo, o que explica sua variabilidade cromática.
Feito provavelmente em areia aquecida, o resfriamento lento produziu até 70% mais cuprorivaíta do que as amostras resfriadas rapidamente. Além disso, o pigmento emite radiação infravermelha sob luz visível, o que pode ter algumas aplicações modernas em segurança, biomedicina e telecomunicações.
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A estrutura do azul egípcio apresenta uma organização molecular parecida com a dos materiais supercondutores, o que pode orientar futuras pesquisas e levar a avanços tecnológicos significativos em trens magnéticos (maglev), ressonância magnética, computadores quânticos e transmissão de energia elétrica sem perdas.
Como foi descobrir que uma cor antiga perdida pode impulsionar tecnologias avançadas do nosso tempo? Compartilhe este conhecimento e inspire mais curiosos sobre a engenhosidade das antigas civilizações.