
05 jun Dia Mundial do Meio Ambiente: macacos-prego dão lições de tolerância
Hoje, 5 de junho, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi instituída em 1972, pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de chamar a atenção para as questões ambientais, em especial para a preservação dos recursos naturais do nosso planeta.
Nos últimos anos, o mundo tem enfrentado os impactos severos das mudanças climáticas, causadas pelo aumento da temperatura global. No Brasil, assistimos a dois extremos: chuvas torrenciais no Sul e secas históricas no Norte do país.
Descubra: Com as atuais mudanças climáticas, como será o clima no Brasil nas próximas décadas?
Desastres climáticos como esses podem se tornar cada vez mais frequentes, à medida que o avanço do desmatamento e a falta de políticas ambientais mais rigorosas contribuem para a perda do habitat natural de várias espécies do ecossistema brasileiro.
O TecMundo, conversou com Tiago Falótico, primatólogo e explorador brasileiro da National Geographic, que faz parte do projeto Capuchin Monkey, que, desde 2018, pesquisa o comportamento dos macacos-prego. A espécie enfrenta o risco de perda de habitat, especialmente por incêndios e desmatamentos na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Estudando o kit de ferramentas dos macacos-prego
Ainda como acadêmico de Biologia da Universidade de São Paulo (USP), Tiago teve sua atenção capturada pelos macacos-prego (Sapajus nigritus) que habitam parques estaduais. Ele ficou particularmente encantado com o modo como esses primatas utilizavam pedras como ferramentas para quebrar frutos duros.
Esse comportamento foi o tema de sua tese de doutorado, defendida em 2011, que alcançou repercussão internacional. O objetivo do trabalho foi descrever o kit de ferramentas usado por dois grupos de macacos-prego no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí. Ele também estudou o aprendizado dessas técnicas por jovens macacos.
Em outro artigo, de 2022, publicado na revista Scientific Reports, Falótico explica: “Em uma das populações que analisamos, mesmo quando possuem pedras adequadas para uso em determinado recurso alimentar, eles podem usar ferramentas desproporcionalmente pesadas, possivelmente evidenciando uma característica cultural daquele grupo”.
Ameaças sofridas pelos macacos-prego atualmente
O Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado na Caatinga, é um importante habitat para os macacos-prego. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Na entrevista ao TecMundo, Falótico falou sobre uma característica surpreendente ligada ao sucesso ecológico dos macacos-prego: sua notável tolerância social quando comparados a outras espécies de primatas. “Autorizando” que os macacos mais jovens acompanhem as atividades de adultos, eles criam um ambiente propício à aprendizagem por observação.
Ao permitir que múltiplos indivíduos acessem as mesmas fontes de alimento e técnicas, o grupo aumenta suas chances coletivas de sobrevivência, adaptando-se melhor às mudanças ambientais. Embora nem todas as espécies de macaco-prego estejam ameaçadas de extinção, conforme a IUCN, muitas sofrem redução populacional e fragmentação do habitat, diz o primatólogo.
Entre as ameaças enfrentadas pelos primatas, está a adoção de macacos-prego como animais de estimação, destaca Falótico. Ele enfatiza que manter primatas como pets é prejudicial tanto para os animais quanto para os humanos. Nesse sentido, uma das grandes questões da conservação é entender como os primatas lidam com os impactos ambientais atualmente.
Desafios para os macacos-prego em um cenário de mudanças climáticas
As futuras pesquisas sobre os macacos-prego serão direcionadas para entender como eles lidam com os impactos das mudanças climáticas. (Fonte: Tiago Falótico/Flickr/Divulgação)
Fazendo pesquisas em áreas inóspitas da Caatinga, com temperaturas extremas e isolamento, Tiago diz ter percebido “o quão resiliente pode ser a vida selvagem para lidar com esses desafios ambientais, que tendem a ser maiores e mais extremos com as mudanças climáticas”. Curiosamente, a afirmação revela tanto a força quanto a vulnerabilidade do bioma semiárido.
Nesse cenário, diz o primatólogo, novas tecnologias estão revolucionando a conservação dos macacos-prego: drones localizam grupos em terrenos inacessíveis, câmeras-trap monitoram comportamentos continuamente e análises genéticas revelam adaptações evolutivas populacionais. Contudo, “a observação direta ainda é insubstituível”, afirma Falótico.
Leia também: Macacos-prego já estão na Idade da Pedra aqui no Brasil
Sobre o futuro de seu trabalho, Tiago Falótico declara: “Acredito que as futuras pesquisas ainda serão bastante direcionadas para entender como os primatas lidam com fragmentação de habitats, coexistência com humanos, e tentativas de minimizar o impacto”, conclui o pesquisador.
Gostou da entrevista? Que tal se inspirar na cultura e na tolerância dos macacos-prego para agir neste Dia Mundial do Meio Ambiente? Apoie a ciência, respeite a vida silvestre e defenda a causa ambiental. Por um futuro sustentável!