
07 jun Que fim levou a CCE, a clássica marca nacional de aparelhos de som e TVs?
O mercado de eletrônicos no Brasil ficou especialmente movimentado a partir da década de 1970. Foram várias marcas nacionais virando referência em segmentos de computadores e consoles até eletrodomésticos, competindo em um espaço ainda limitado para companhias estrangeiras.
Um dos nomes de maior destaque a partir desse período foi a CCE, referência em áreas como televisores e sistemas de som. Porém, os produtos da companhia eram tão criticados quanto comprados pelo público e, depois de reviravoltas corporativas, se tornou um nome cada vez menos lembrado.
Leia também: Que fim levou a Semp Toshiba, uma das líderes do mercado de televisores no Brasil?
A origem da CCE
A CCE foi fundada em 1964 já com esse nome, sigla para Comércio de Componente Eletrônicos. O empresário Isaac Sverner foi o fundador e primeiro presidente, cargo que ocupou por anos durante as boas e más fases da companhia.
Como o próprio nome entrega, o início das atividades envolveu a importação e venda de peças para outras marcas de eletrônicos. Com o fortalecimento da indústria nacional a partir de políticas como a reserva de mercado da informática, porém, a situação começou a mudar.
Em 1971, a CCE inicia a fabricação de produtos próprios pela Zona Franca de Manaus. Sistemas de som “3 em 1” (que eram rádio, toca-fitas e toca-discos ao mesmo tempo) e televisores foram desde o início os destaques da marca.
Porém, ao longo dos anos ela também arriscou em outras áreas. Ela foi a responsável pela dupla Top Game e Turbo Game, clones brasileiros do Nintendo Entertainment System, o popular Nintendinho. Além disso, ela também lançou um microcomputador, o MC1000, também baseado em um modelo estrangeiro.
Os dois consoles da CCE no Brasil. (Imagem: Divulgação/CCE)
Porém, a preferência era clara: no começo da década de 1990, o segmento de televisores era responsável por 40% do faturamento da companhia, enquanto outros 40% era de responsabilidade da divisão de aparelhos de som.
Em 1994, ela contrata Nelson Wortsman, ex-vice-presidente da Sharp do Brasil, para comandar a empresa. Ele liderou a fase de expansão da linha, passando dos eletrônicos mais tradicionais até lavadoras de roupa, geladeiras e micro-ondas.
Saiba mais: 8 marcas de TV que fizeram muito sucesso no Brasil e não existem mais
A CCE passa a fabricar até mesmo as embalagens dos seus produtos, o que é visto de duas formas. Por um lado, ela garante maior controle de qualidade e segurança nos processos, mas aumenta custos e quantidade de etapas que exigem maior supervisão.
E, além dos lançamentos próprios, ela também se popularizou por importar marcas de áudio, como Kenwood, Sanyo e Orion.
Um antigo anúncio de revista da CCE. (Imagem: Reprodução/Vintage7080)
Já em 2006, a fabricante fecha uma parceria com marcas como Intel, Microsoft e Qualcomm para entrar no segmento de desktops e notebooks. Essa é a subdivisão que ficou conhecida como CCE Info.
Mais tarde, ela foi seguida pela CCE Mobi, uma unidade focada no lançamento de smartphones.
A CCE tinha má fama entre o público?
A fabricante brasileira CCE ficou conhecida principalmente por apresentar alternativas de menor custo ao consumidor, com preços mais acessíveis até mesmo em comparação com outras empresas nacionais.
Quem sonhava com uma TV de tubo ou um aparelho de som em casa e não tinha um grande orçamento tinha como primeiro aparelho algo da CCE. Isso foi aliado a um marketing poderoso e comerciais de sucesso na América Latina — a ponto de, na década de 1980, a CCE chegar ao primeiro lugar em vendas em aparelhos de áudio.Só que problemas frequentes até demais com esses modelos também geraram uma má fama entre a companhia, que passou a ser vista como uma empresa de qualidade técnica duvidosa.Até mesmo o seu nome passou a ser alvo de piadas, com CCE virando em brincadeiras “Começou Comprando Errado” ou “Conserta, Conserta e Estraga“.
Venda, revenda e fim
Já com bem menos espaço, a CCE conseguiu em setembro 2012 um negócio que parecia garantir a sobrevivência da companhia. A empresa brasileira foi adquirida pela gigante chinesa Lenovo, interessada em fortalecer a presença no segmento de notebooks no país
Naquele momento, ela estava em terceiro lugar no mercado, chegando a 7% somando as duas companhias.
Na época sob administração do grupo Digibrás, que é o nome do guarda-chuva de companhias da família Sverner, a CCE foi vendida por R$ 300 milhões na época. Segundo a própria Lenovo, os principais valores dela incluíam a experiência no varejo nacional, o conhecimento do consumidor brasileiro e fábricas na Zona Franca de Manaus.
Confira ainda: Galaxy Note 7 e mais: confira eletrônicos proibidos que você não pode levar no aviãoA Lenovo se interessou pela CCE inclusive para ter novos notebooks. (Imagem: Divulgação/CCE)
Só que esse casamento durou bem menos do que o esperado. Em outubro de 2015, a Lenovo encerra o pagamento de parcelas da aquisição e devolve o controle acionário da CCE para a família Sverner, o que inclui as fábricas e os direitos da marca.
Na época, a chinesa alegou que buscava “aprimorar sua eficiência operacional e a rentabilidade do negócio de PCs globalmente e no Brasil“. Ela manteve uma fábrica na em Itu e passou a usar a cidade paulista como local de produção de aparelhos próprios e da Motorola, que também passou para o seu controle anos antes.
Economize com o cupom Casas Bahia e garanta sua nova Smart TV com desconto!
No mesmo ano de 2015, ela deixou de lançar televisores com a marca CCE, encerrando a linha mais popular de produtos da marca. Mesmo com a empresa de volta às origens, a marca não seguiu em atividade.
O próprio site dela deixou de existir e não se encontra qualquer traço online da CCE — exceto quem ainda eventualmente tenha produtos antigos ou comprados do estoque restante. Do grupo como um todo, apenas a empresa de montagem de placas de circuito impresso Digiboard segue ativa e mais discreta em Manaus.
O site oficial da empresa hoje. (Imagem: Reprodução/Digiboard)
Quer saber o que aconteceu com a divisão de TVs da Mitsubishi, outra companhia forte no cenário brasileiro? Confira essa matéria especial do TecMundo!