Por que o concreto romano é tão resistente até hoje?

Quem vai a Roma geralmente se impressiona com a imponência dos monumentos, como o Coliseu, o Panteão e os aquedutos. Essas construções não apenas sobreviveram por dois milênios, mas continuam a inspirar admiração pela sua escala, beleza e sofisticação técnica. Estão, muitas vezes, em melhor estado do que obras modernas construídas há poucas décadas.  

Atribuída em grande parte ao concreto romano, a longevidade dessas estruturas mantém alguns recordes impressionantes. O famoso Panteão de Roma, um templo originalmente dedicado a todos os deuses, continua tendo hoje a maior cúpula de concreto não reforçado do mundo, intacta desde o ano de 128 d.C. 

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Após décadas de pesquisa, cientistas do MIT, Harvard e laboratórios europeus publicaram, em janeiro de 2023, os segredos desse concreto romano ultradurável. Publicado na revista Science Advances, o estudo revelou técnicas antigas que explicam a longevidade de estruturas romanas em condições adversas como docas, esgotos e regiões sísmicas.

Uma pista sobre o segredo da durabilidade do concreto romano

Local de coleta e características distintivas das amostras de concreto da Roma Antiga. (Fonte: Linda Seymour et al., Science Advances, 2025/Divulgação)

Por muito tempo, os cientistas pensaram que o “segredo” da durabilidade do concreto romano estava nas cinzas vulcânicas da cidade de Pozzuoli, transportadas por todo o império. Esse material, a pozolana, era considerado o ingrediente-chave segundo relatos históricos e arquitetônicos da época, e explicaria a resistência das construções antigas romanas

Fascinado com pequenos fragmentos brancos brilhantes, chamados “clastos (fragmentos) de cal”, presentes no concreto romano antigo, o coautor Edmir Masic, do MIT, realizou uma análise mais aprofundada e descobriu que o material (óxido de cálcio), em escala milimétrica, não era totalmente hidratado nem misturado de forma homogênea na massa do concreto. 

Mas o que a pesquisa contemporânea revelou, por meio de imagens multiescala e mapeamento químico, foi que esses clastos não eram deixados por desleixo, mas sim intencionalmente pelos construtores romanos, por conferir ao concreto uma capacidade de autorreparação. Quando rachaduras aparecem, os clastos incham e “curam” as fissuras.

A mistura quente que fez do concreto romano o mais resistente do mundo

Uma mistura quente com cal virgem tornou o concreto romano durável. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

A crença tradicional era de que os romanos faziam uma hidratação da cal antes de incorporá-la ao concreto, formando uma pasta reativa, o que é um processo padrão na indústria moderna. Mas, percebendo os clastos, Masic teve um insight: “E se os romanos jogassem cal viva diretamente na mistura do concreto, com água e outros ingredientes?” 

Análises das amostras confirmaram que as inclusões brancas eram, de fato, carbonato de cálcio formado em temperaturas extremas. Exames espectroscópicos indicaram reações exotérmicas típicas do uso de cal viva, ou seja, uma reação que pode atingir temperaturas entre 150° w 200 °C, uma “mistura quente” única e revolucionária para a época.

Essa mistura oferece benefícios duplos: permite a formação de compostos químicos impossíveis com cal “apagada” e acelera significativamente a cura e a pega concreto (endurecimento). O calor faz as reações químicas acontecerem duas a três vezes mais rápido: a pega em 1-2 horas, em vez de 4-6; e a cura inicial em horas, em vez de dias.

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Os autores concluíram que a chave para a durabilidade do concreto romano foi essa mistura a quente. Os clastos deixados desenvolvem nanopartículas que funcionam como uma fonte reativa de cálcio. Quando fissuras atravessam esses clastos, o material reage com água, formando uma solução saturada, que recristaliza como carbonato de cálcio, e preenche as rachaduras. 

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