A 1ª pirâmide do Egito pode ter usado um sistema de elevação hidráulica

Às vezes subestimada pelo turismo de massa, a pirâmide de Djoser é o marco inicial da arquitetura monumental em pedra do Egito — a pioneira e a primeira pirâmide em degraus feita com pedra talhada no mundo. Construída por volta de 2667–2648 a.C., ela pode ser a chave para o mistério que envolve os métodos de construção de todas as pirâmides egípcias.

Em um estudo publicado no ano passado, na revista PLoS ONE, uma equipe de pesquisadores franceses, liderada por Xavier Landreau, do Instituto Paleotécnico do CEA (Comissariado para Energia Atômica e Energias Alternativas), propôs que a pirâmide de Djoser foi construída com a ajuda de um sofisticado sistema de elevação hidráulico.

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Segundo os autores, a água, bem mais abundante naquela época, pode ter sido canalizada pelos construtores para dois poços dentro da pirâmide, onde serviu ara movimentar um mecanismo flutuante. O sistema, parecido com uma boia gigante, poderia ajudar a erguer os grandes blocos de pedra nos diferentes níveis da pirâmide, reduzindo o esforço humano.

Pistas para o mistério da construção da pirâmide

Mapa do planalto de Saqqara mostrando o curso d’água da barragem de Gisr el-Mudir até a estação de tratamento de água. (Fonte: Xavier Landreau, PLoS ONE, 2024/Divulgação)

A primeira pista para a teoria vem de um recinto próximo, chamado Gisr el-Mudir, uma espécie de caixa d’água gigante medindo 650 m de comprimento por 350 m de largura com muros de até 5 m de altura por 15 m de espessura em alguns trechos. Essa estrutura, misteriosa por milênios, pode ter funcionado como uma barragem para retenção de sedimentos.

Localizado também no planalto de Saqqara, a oeste da pirâmide de Djoser, o recinto murado pode ter sido o que hoje se conhece como uma “armadilha de sedimentos”, estrutura usada para reter elementos como lama, areia ou cascalho, impedindo que eles continuem se espalhando rio abaixo.

Além disso, um canal profundo (com cerca de 400 m de extensão e 27 m de profundidade), localizado ao sul da pirâmide, revela uma sequência de compartimentos compatíveis com uma estação de tratamento de água rudimentar, que, teoricamente, poderia ter conduzido o líquido aos poços da pirâmide, retendo os sedimentos como material de construção.

Voltando à pirâmide

Arqueólogos pensam que a descoberta do mistério da construção das pirâmides está próxima. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Equipes de pesquisa estão retornando a Saqqara, agora equipadas com radar de penetração no solo (GPR) e mapeamento por drone. O objetivo agora é detalhar melhor o sistema de reservatórios e canais, inclusive o Gisr el-Mudir, o canal profundo e os poços da pirâmide. Os pesquisadores querem estimar quanto de água estaria disponível, e por quanto tempo.  

Como as condições paleoclimáticas do Antigo Egito diferiam muito do atual deserto, os engenheiros estão considerando os ciclos de chuvas intensas daquela época nos novos cálculos da capacidade dos reservatórios piramidais. É possível que inundações controladas teriam sustentado tanto as construções monumentais, como as comunidades vizinhas.

Os pesquisadores pretendem expandir seus trabalhos para Meidum e Dahshur, sítios que funcionaram como uma espécie de laboratório de experimentação para protótipos de pirâmides, na busca de sistema hidráulicos similares aos imaginados na pirâmide do faraó Djoser. 

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Descobertas recentes, feitas por satélites e confirmadas por levantamentos geofísicos e núcleos de sedimentos, indicaram a presença de um antigo braço de rio com 64 km de extensão que fluía perto dos campos das pirâmides. Animados, os especialistas continuam apostando na infraestrutura hídrica como a peça que faltava na história da construção das pirâmides.

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