Curso ensina a usar IA para criar anúncios fraudulentos com imagens manipuladas

Um curso online está ensinando os participantes a produzirem anúncios falsos de produtos que prometem emagrecimento rápido usando ferramentas de inteligência artificial, conforme denunciou o UOL no último final de semana. As propagandas fraudulentas trazem deepfakes de famosos como o médico Drauzio Varella.

Participando do curso de maneira anônima, a reportagem acompanhou as aulas ministradas na plataforma BritesFlix, que cobra R$ 1.097 por aluno. A turma contava com mais de 600 participantes cadastrados no grupo da mentoria mantido no WhatsApp.

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Como funciona o curso?

De acordo com o relatório, os alunos aprendem a usar IA para manipular imagens, além de serem instruídos a criar chamadas apelativas. O objetivo é despertar o interesse de pessoas que querem emagrecer sem fazer esforço, principalmente o público feminino.

Durante as aulas, são ensinadas técnicas para clonar a voz de personalidades, utilizando softwares alimentados por IA;Há, também, a apresentação de métodos para sincronizar a voz com os movimentos labiais, tornando a montagem mais realista;O curso aborda, ainda, o melhor enquadramento da imagem para reduzir as chances de erro ao fazer a sincronização;A criação de perfis e páginas falsas no Facebook para divulgar os anúncios com imagens manipuladas é outro tema tratado no curso online;Na mentoria, também são ensinados métodos para enganar a verificação de autenticidade da rede social e ocultar comentários negativos sobre o produto;O uso de cartões virtuais para não pagar pela veiculação de anúncios nas plataformas da Meta é outro conteúdo das aulas.

Para passar uma maior credibilidade, a maior parte dos anúncios usa deepfakes de Drauzio Varella. O oncologista, inclusive, está processando a Meta, além de ter aberto uma ação ao lado do Ministério Público de São Paulo na tentativa de identificar as pessoas que usam a sua imagem para aplicar golpes.

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As propagandas fraudulentas criadas pelos alunos podem incluir imagens de outras personalidades, como as cantoras Alcione, Simone Mendes e Maiara, que aparecem supostamente indicando o produto para emagrecer. Influenciadores, profissionais de saúde de outros países e logomarcas de veículos de imprensa também são usadas.

Nas aulas, os alunos aprendiam a manipular imagens com IA. (Imagem: Getty Images)

Como são feitas as vendas?

Os anúncios com fotos de IA ou modificadas a partir de bancos de imagens são divulgados no Facebook, principalmente, acompanhados de comentários feitos pelos próprios alunos para aumentar o engajamento. Ao clicar neles, o internauta é direcionado a uma conversa no WhatsApp.

No bate-papo, os autores se passam por especialistas em emagrecimento ou médicos, solicitam dados pessoais e podem até ligar para o cliente, fazendo chantagens emocionais, na tentativa de fechar o negócio. A venda é feita via link de afiliação, com a promessa de ganhos de até R$ 1 mil por dia para os alunos.

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O produto vendido é conhecido como Detox Oriental, conforme a matéria, um suplemento alimentar que alega otimizar o emagrecimento. No entanto, as regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbem tal tipo de propaganda.

Em prints de conversas do grupo compartilhadas pela reportagem, os alunos do curso que ensina a fazer anúncios falsos com IA discutem sobre dúvidas dos clientes, como a possibilidade de uso por pessoas com câncer ou problemas cardíacos. Também há deboches de quem acredita estar conversando com um médico.

O médico Drauzio Varella é uma das personalidades mais usadas nos deepfakes, segundo a denúncia. (Imagem: Wikimedia Commons)

O que dizem os envolvidos?

Respondendo aos questionamentos da reportagem, o advogado de Daniel de Brites, proprietário da plataforma que oferece o curso, disse que o conteúdo não ensina a manipular imagens de famosos para promover produtos. Ele alegou que a IA auxilia a criar personagens para uma técnica de marketing digital legítima.

A defesa também negou o incentivo a práticas como propaganda enganosa, falsidade ideológica e comércio irregular de produtos. Quanto ao suplemento, o advogado afirmou se tratar de um item em conformidade com a legislação.

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Já a Meta ressaltou a proibição de atividades que objetivem enganar ou explorar terceiros em suas redes sociais, recomendando aos usuários que denunciem tais tipos de conteúdos. Por sua vez, o Ministério Público de São Paulo afirmou que a ação contra a big tech está sob sigilo e não pode dar detalhes.

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