
20 jun Regulação ou liberação? IA deve ser tema central do papado de Leão XIV
Os avanços promovidos pela tecnologia, em especial aqueles relacionados à inteligência artificial generativa, devem ser tema de debates recorrentes em encontros chefiados pelo Papa Leão XIV no Vaticano. É o que revelou o The Wall Street Journal nesta semana.
De acordo com a reportagem, a IA ganhou atenção especial do novo papa durante encontro realizado com cardeais na sede da Igreja Católica, dois dias após ele ser anunciado como o substituto do Papa Francisco, no início de maio. Em seu primeiro discurso, a tecnologia foi um dos assuntos abordados.
Leia também: Novo Papa: o ChatGPT acertou ou errou o eleito no Conclave?O Papa Leão XIV assumiu a liderança da Igreja Católica em maio. (Imagem: Getty Images)
O que o Papa Leão XIV disse sobre a IA?
Falando ao Colégio de Cardeais pela primeira vez, Leão XIV citou a revolução industrial ao comentar sobre a inteligência artificial. Iniciada no século XVIII na Inglaterra, ela foi marcada pela substituição do trabalho manual pelas máquinas e a expansão da indústria, transformando a produção e impactando as relações sociais.
“Hoje, a Igreja oferece seu tesouro de ensino social para responder a outra revolução industrial e às inovações no campo da inteligência artificial que representam desafios à dignidade humana, à justiça e ao trabalho”, disse o papa, no encontro;Ele quer fazer da ameaça potencial da IA à humanidade uma questão marcante do seu pontificado, desafiando empresas que há décadas buscam o apoio do Vaticano, segundo o relatório;Para tanto, Leão XIV defende a regulamentação da IA por autoridades governamentais e pode usar a influência do Vaticano para pressionar por leis mais rígidas;Conforme o cardeal Giuseppe Versaldi, que conhece o novo papa há anos, ele defende que “os mundos da ciência e da política enfrentem imediatamente este problema (a regulamentação), sem permitir que o progresso científico avance com arrogância”;O pontífice americano revelou, ainda, que a escolha do seu nome papal foi inspirada na “revolução tecnológica”, se referindo ao Papa Leão XIII;Líder da Igreja entre 1878 e 1903, Leão XIII ficou conhecido por defender os direitos dos trabalhadores na Era Dourada, período que também apresentou avanços tecnológicos.
Bacharel em Matemática, Robert Francis Prevost — nome de batismo do papa — possui mais experiência com computadores e tecnologia que o antecessor. No entanto, o Papa Francisco também se mostrava cético em relação à falta de leis que regulem o uso da inteligência artificial.
Saiba mais: Papa Leão XIV escolheu nome por mudanças causadas pela IA; entenda
Nos próximos dias, o Vaticano deve receber executivos de empresas como Google, Anthropic, IBM e Meta, entre outras, que vão participar de uma conferência em Roma (Itália) sobre ética, governança e IA. Embora não haja um encontro programado entre os CEOs e Leão XIV, é possível que o pontífice envie uma mensagem aos executivos.
Leão XIV defende a regulamentação da IA. (Imagem: Getty Images)
Como a Igreja Católica trata a IA?
Nos últimos anos, as gigantes da tecnologia têm tentado se aproximar mais do Vaticano, principalmente a partir do momento em que o Papa Francisco assumiu a liderança, na década passada. De modo geral, as conversas foram cordiais, porém nem sempre terminaram em consenso.
Durante o seu papado, Francisco usou bastante o antigo Twitter, tentou criar um canal no YouTube do Vaticano para jovens e se reuniu algumas vezes com vários líderes tecnológicos, incluindo Mark Zuckerberg, da Meta, e Tim Cook, da Apple. Por volta de 2019, a Igreja passou a se envolver em discussões sobre o uso ético da IA.
E nos anos seguintes, o Papa Francisco comentou sobre a IA em várias oportunidades, chegando a colocá-la, junto com a robótica, entre as intenções de orações do Vaticano. Mas ele também se mostrou bastante crítico à tecnologia, mencionando o vício em celular e os riscos da inteligência artificial.
No início deste ano, o Vaticano fez uma das críticas mais duras à inovação, alertando que a IA tem a “sombra do mal”, em referência à capacidade de espalhar desinformação, e pedindo mais rigor na supervisão dela. Acredita-se que Leão XIV dará sequência aos pedidos por ética e responsabilidade no uso da tecnologia que eram defendidos por Francisco.
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