Embora oficialmente negado, início do Antropoceno é mostrado em estudo

Desde que, no ano 2000, o Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen e o limnólogo Eugene Stoermer propuseram a hipótese de que a atual época geológica do planeta Terra, o Holoceno, havia se encerrado e em seu lugar se iniciara o Antropoceno, diversos estudiosos têm tentado definir quando realmente a “era do homem” começou a impactar a Terra.

Infelizmente, o órgão que tem autoridade para reconhecer essa mudança, a União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS) rejeitou-a em março de 2024. Isso não impediu que várias propostas continuassem sendo apresentadas, ora situando o início do Antropoceno no início do século 17 ou em meados do século 20 com a detonação das bombas atômicas.

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Em um estudo recente, publicado na revista Nature Reviews, Earth and Environment, o cientista de ecossistemas e biogeoquímico Vincent Gauci, da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, propõe uma nova data de início para o Antropoceno. Baseada em mudanças nos níveis globais de metano, sua hipótese é de que a era geológica teria começado em 1592.

Vantagens de uma teoria baseada no metano atmosférico

Embora a proposta de Gauci tenha também como pano de fundo o colonialismo europeu, ele sugere que o Antropoceno começou cerca de 18 anos antes da data proposta de 1610, baseada nos níveis de CO₂ identificados nos registros de núcleos de gelo. A nova data se apoia em uma pesquisa sobre a concentração atmosférica de metano. 

A metodologia baseada em metano oferece algumas vantagens sobre os indicadores anteriores. Enquanto o CO₂ pode permanecer na atmosfera por décadas ou séculos, o metano responde rapidamente a alterações ambientais, além de ser 80 vezes mais potente. Em outras palavras, representa um marcador temporal mais preciso para mudanças antropogênicas. 

Assim como na pesquisa de Simon Lewis e Mark Maslin, as descobertas de Gauci se basearam em indícios de mudanças históricas na composição da atmosfera global detectados em testemunhos de gelo coletadas de geleiras e calotas polares da Antártida. A pesquisa atual mostra uma concentração mínima de metano 100 anos depois da chegada de Colombo às Américas.

Morte e renascimento de homens e árvores

Medindo a absorção de metano pelas árvores. (Fonte: Vincent Gauci/Divulgação)

A chegada dos europeus em 1492 e a colonização a partir de 1500 resultaram em um colapso demográfico (leia-se genocídio indígena) de cerca de 50 milhões de pessoas nas Américas. Com isso, grandes extensões de terras agrícolas deixaram de ser cuidadas, o que provocou um reflorestamento sem precedentes. Resultado: menos CO₂ e metano na atmosfera. 

Em seu artigo, Gauci se apoia no poder das árvores como sumidouros de metano. Com mais árvores crescendo em terras agrícolas abandonadas, havia mais área de superfície de árvores lenhosas em contato com a atmosfera. Segundo o autor, essas árvores hospedam micróbios que removem diretamente o metano da atmosfera. 

Outro mecanismo, a retenção de parte das chuvas pelas copas das árvores faz com que a água evapore diretamente de volta à atmosfera, sem chegar ao solo. Na prática, isso significa um “sequestro” da água que iria para os pântanos, reduzindo uma grande fonte produtora de metano. 

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Esses vestígios de nossa influência antiga sobre o planeta indicam que “sempre houve uma conexão íntima e evolutiva entre a humanidade e o mundo natural”, diz Gauci. “Uma conexão tão fundamental que, durante toda a nossa existência como espécie, fomos inseparáveis da própria natureza”, conclui ele em um comunicado.

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