Review: Eriksholm The Stolen Dream traz ação furtiva competente e direta ao ponto

Eriksholm: The Stolen Dream é o jogo de estreia do estúdio sueco River End Games, recém-formado por veteranos da indústria que já trabalharam em títulos como Battlefield, Mirror’s Edge, Little Nightmares, Need for Speed, entre outros. Trata-se de um time de dezesseis pessoas que, seguindo na contramão das saturadas tendências de indústria, decidiu apostar em uma propriedade intelectual totalmente original e focada no nicho de ação furtiva sob visão isométrica, remetendo a nomes como Desperados e Shadow Tactics: Blades of the Shogun.

Como alguém que cobre videogames já há mais de quinze anos, projetos autorais e que reacendem o sentimento de descoberta, sem a descabida pretensão de agradar a todo mundo, são disparados os meus favoritos e os mais interessantes de acompanhar. E Eriksholm: The Stolen Dream chega em um momento muito oportuno, pois reafirma que existe muito valor em jogos menores e que vêm à luz por times que verdadeiramente querem criá-los.

Ficou curioso para saber mais? O Voxel já teve a oportunidade de jogar antecipadamente e conta, nas linhas a seguir, as impressões completas e porque você deve dar uma chance ao jogo. Vale lembrar que Eriksholm chega oficialmente nesta terça-feira (15) com versões para PC (Steam e Epic Games Store), PS5 e Xbox Series S e X, além de contar com uma versão de demonstração gratuita para download. Confira:

Narrativa que instiga a curiosidade e com personagens fortes

Uma das principais características de Eriksholm: The Stolen Dream é o seu foco na narrativa, apresentada de uma forma que raramente interrompe o ritmo da jogatina. Praticamente tudo acontece em tempo real e o jogador rapidamente tem controle sobre Hanna, a personagem principal da aventura. A história se passa na cidade que dá título à obra, inspirada na Escandinávia do início do século XX e que está sofrendo dois grandes eventos: a chegada do maquinário a vapor, que está fazendo pessoas perderem seus antigos empregos e aceitarem trabalhos ainda mais precarizados; e uma doença mortal chamada de Praga do Coração, que está ameaçando a população.

No começo da campanha, descobrimos que Hanna estava doente e sob os cuidados do seu irmão, Herman. Indo contra todas as probabilidades, Hanna consegue se recuperar e seu irmão, aliviado, se prepara para trabalhar enquanto ela segue repousando em casa. No dia seguinte, a protagonista tem seu sono interrompido pela visita de um policial, que quer levá-la para interrogatório. Com isso, ela descobre que seu irmão não apenas está desaparecido, como toda a força policial foi mobilizada, abusando da sua autoridade para oprimir moradores e encurralar a dupla.

Desta forma, a campanha guia o jogador pela curiosidade: por que há tantos militares atrás de dois jovens e por que o prefeito, que está em campanha eleitoral, está tratando isso com tanta urgência, sendo que a população está sofrendo pela pobreza, saúde precária e falta de empregos dignos? Será que o Herman fez algo de errado? E onde ele está? Todas essas questões colaboram para a construção de mundo, que também é apoiada por personagens muito interessantes, com diálogos bem escritos, e colecionáveis que encontramos pelos cenários. 

A campanha guia o jogador pela curiosidade.

Alguns desdobramentos da história são bastante previsíveis, mas ela é divertida de acompanhar e cumpre bem o seu papel. A Hanna, particularmente, é uma protagonista muito corajosa e capaz, razão pela qual acaba se colocando em encrencas e tendo atrito com outros personagens. Há bastante humanidade nas interações, e a performance dos atores também é um dos grandes pontos positivos. As cenas mais cinematográficas, apesar de serem poucas, saltam aos olhos pela qualidade visual e enriquecem bastante a experiência.

A união faz a força

Como mencionado, Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo de ação furtiva isométrico, utilizando-se de mecânicas de apontar e clicar para controlar seu personagem e interagir com o mundo. As primeiras horas do jogo são um pouco monótonas, pois ele demora para introduzir suas mecânicas. Mas tudo fica mais interessante quando Hanna, por exemplo, ganha acesso a uma zarabatana e quando outros personagens jogáveis são introduzidos.

Há momentos em que os jogadores devem controlar até três personagens simultaneamente, intercalando entre as unidades e realizando ações coordenadas para chamar a atenção de inimigos e abrir caminho para prosseguir. Cada personagem tem suas particularidades, como arremessar pedras para chamar a atenção de inimigos, escalar canos ou nadar, então é muito satisfatório quando conseguimos executar suas mecânicas para superar os desafios.

Controlar vários personagens ao mesmo tempo pode parecer intimidador, mas a base de gameplay é bastante simples e intuitiva, trazendo o que se espera de um jogo stealth. É fácil de trocar entre as unidades e, caso você se sinta perdido, a resposta quase sempre está em girar a câmera para enxergar novas perspectivas no cenário. A inteligência artificial dos inimigos deixa a desejar, pois eles são bastante burrinhos e rapidamente esquecem da sua tentativa de distraí-los, mas isso também serve, talvez de forma acidental, a um propósito na narrativa: mostrar como os fascistas são incompetentes.

As fases, que têm em média uma hora de duração, também entregam alguns desafios variados. Um dos que eu mais gostei envolvia a interpretação de símbolos em uma mina de carvão abandonada, com o intuito de descobrir o caminho correto. Foi uma dinâmica que me lembrou um pouquinho de jogos como Chants of Sennaar. Também há várias brincadeiras com sombra dinâmica, em que é preciso pegar cobertura para seguir camuflado pelo cenário.

Algo que vale notar, no entanto, é que Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo bastante linear. Embora a exploração seja fundamental, as fases não trazem diferentes soluções possíveis para um mesmo problema, que é uma das coisas mais divertidas de jogos furtivos. É tudo feito meticulosamente com o pressuposto de que o usuário seguirá o caminho pensado pelos desenvolvedores. Logo, ele deixa a desejar na parte estratégica e é mais bem descrito como um jogo de quebra-cabeça furtivo.

Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo bastante linear.

Por ter soluções tão fechadinhas, sofri alguns sérios riscos de travar a jogatina. O jogo é bastante generoso com seus salvamentos automáticos, mas pode acontecer de ele salvar em momentos inoportunos. Durante a minha experiência, houve um momento em que eu tinha de botar um inimigo para dormir enquanto entrava no cômodo com um segundo personagem, pela porta dos fundos, para esconder o corpo. No entanto, um outro guarda vinha em direção prestes a flagrar a situação.

O jogo salvou neste momento, sem me dar tempo hábil para resolver essa situação — o loading sempre voltava com o guarda prestes a descobrir o corpo, enquanto meu segundo personagem continuava do lado de fora do cômodo. Por muito pouco eu não tive de reiniciar o capítulo inteiro. Eu consegui entrar e esconder o corpo antes de ser descoberto depois de muitas tentativas, mas tudo teve de ser executado perfeitamente e em um intervalo curtíssimo, como se houvesse uma janela de um frame entre cada ação. Foi bastante frustrante.
 
 

Dificuldade e duração na medida certa

Os jogos furtivos podem ser um pouquinho maçantes, já que envolvem esperar o momento certo para avançar pelos cenários. Quando as investidas dão errado, eles também podem ser bastante punitivos e vencer os jogadores pela falta de paciência. Felizmente, no momento em que as fases de Eriksholm: The Stolen Dream começam a ficar repetitivas, elas já estão na reta final ou introduzem alguma dinâmica diferente. O jogo também se preocupa em não deixar o processo de tentativa e erro muito frustrante, já que o jogador rapidamente recupera o controle no momento em que as coisas deram errado.

A campanha traz oito capítulos, cada um com cerca de uma hora de duração. Os últimos podem durar um pouquinho mais, mas o time de desenvolvimento teve cuidado para que tudo durasse o tempo ideal para continuar divertido. Outra decisão muito acertada é que, mesmo nos momentos de tutorial, o jogo não interrompe a ação do usuário. Você tem pleno controle do início ao fim, sem janelas invasivas, e essa é uma filosofia de game design que tem de ser elogiada nos dias de hoje.

Vale a pena?

Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo competente na sua simplicidade. Ele não é particularmente inovador em seu gameplay e nem na narrativa, mas é bom o suficiente para entreter com suas mecânicas e agradar os fãs que estiverem carentes de jogos de furtividade. O texto dos personagens se destaca, apresentando diálogos muito bem escritos e que refletem suas personalidades. A construção de mundo também salta aos olhos pela naturalidade com que expõem suas críticas políticas e sociais.

A ausência de múltiplas soluções para um mesmo desafio pode decepcionar jogadores mais exigentes, mas, ao mesmo tempo, torna este um excelente jogo de entrada para pessoas que não estão acostumadas com jogos furtivos. É o jogo ideal para você que busca algo diferente e autoral — sem pretensões de virar uma franquia gigantesca e que pode ser jogado no se ritmo, em sessões curtas. 

Nota do Voxel: 80

Pontos positivos (prós):

Personagens interessantes;Narrativa que instiga a curiosidade;Gráficos muito bonitos;Mecânicas simples e divertidas;Boa localização em PT-BR.

Pontos negativos (contras):

As fases são muito lineares;A inteligência artificial dos inimigos deixa a desejar;Os salvamentos automáticos podem nos colocar em armadilhas.

A análise de Eriksholm: The Stolen Dream foi realizada no PC e foi possível com o recebimento de uma chave de acesso da assessoria de imprensa. O jogo chega oficialmente em 15 de julho com versões para Steam, Epic Games Store, PS5 e Xbox Series S/X.