Review: Edens Zero é mais que um jogo de anime padrão

Não é todo dia que vemos um jogo baseado em anime que, por ser destinado a um público específico, vai além do básico e não se acomoda sob o rótulo de fanservice. Eu poderia passar metade deste texto citando nomes de releituras medíocres, isto é, medianas, mas você, fã de animes tanto quanto este redator que vos escreve, sabe exatamente de quais estou falando. 

Baseado na obra de Hiro Mashima, autor que deu vida à franquia Fairy Tail, o game de Edens Zero, desenvolvido pela Konami (cabe uma pausa dramática aqui), não se contenta em ser apenas uma mera adaptação para sua audiência, e sim um bom título de ação, dentro das limitações técnicas que carrega. 

Edens Zero se ancora no que há de melhor nos RPGs de ação, com nítidas influências de Dragon Ball Z: Kakarot na concepção de seu mundo aberto, inclusive adotando a mesma mecânica de voo de Goku. Novamente: o jogo pode não ser um benchmark gráfico e, por vezes, esboça uma estética simplista demais para os parâmetros da geração em que estamos, mas uma coisa é certa: ele diverte horrores. 

Resumão do anime 

Para quem não conhece, Edens Zero é uma série de fantasia espacial que nos apresenta ao carismático Shiki Granbell, um jovem com poderes gravitacionais que cresce em um planeta habitado por robôs. Quando nosso protagonista conhece Rebecca, uma famosa streamer, os dois criam um laço e partem rumo ao espaço em busca de aventuras e, principalmente, de novas amizades. 

Trata-se de uma jornada de vínculo e companheirismo, com todos os elementos que compõem um bom shonen. O jogo, assim como o anime no qual se baseia, também entrega batalhas intensas e o humor característico das produções de Mashima. De verdade: tudo o que define a ópera espacial do mangá foi preservado, e o carinho pela franquia transparece até nos mínimos detalhes. 

Devo confessar que não estava tão familiarizado com a obra original antes do lançamento, não tanto quanto gostaria, mas Edens Zero cumpre um bom papel de contextualizar quem pretende conhecer a saga por meio desta adaptação, sem precisar recorrer a outras mídias. Tendo me aventurado pelo anime só depois de jogar, posso dizer que algumas cenas são, literalmente, transposições diretas para o motor gráfico utilizado pela Konami. 

Dois em um 

Como mencionei, Edens Zero é um jogo de mundo aberto, mas sua estrutura é dividida em dois formatos. O primeiro é o planeta Blue Garden, no qual é possível explorar livremente e concluir missões para figurinhas carimbadas do anime. O segundo é a campanha principal, segmentada em episódios lineares e mais voltados à narrativa, recriando momentos decisivos da lore. 

Ambos os modos são acessíveis a partir da Edens Zero, a nave-mãe que exerce o papel de hub central. À medida que avançamos na aventura, podemos recrutar novos personagens, aumentando assim a tripulação da nave de guerra. Há, inclusive, diálogos e missões exclusivas para quem deseja um saborzinho de conteúdo novo. 

Essa delimitação entre campanha e mundo aberto pode parecer estranha à primeira vista, mas funciona. O mundo aberto tem seu charme, sendo uma excelente distração para os intervalos da história. Cansou de ler diálogos e assistir às cutscenes? É só partir para o mapa livre, pegar sua moto espacial e um abraço. O mundo é seu. 
Mundo aberto generoso, mas “barato”.

Como você já deve ter notado até aqui, o mundo aberto é o grande trunfo de Edens Zero, mesmo com problemas. É nele que somos introduzidos às centenas de missões da Guilda, cuja conclusão permite que Shiki e seus aliados sejam promovidos e, por consequência, subam na classificação de aventureiros. 

Há de se reconhecer que muitas das atividades são genéricas e se resumem a levar ou buscar itens para NPCs, num esquema danado de leva e traz – ou a caçar uma determinada criatura em um ponto específico do cenário. Apesar da repetição e da falta de incentivo para cumprir certos objetivos, revisitar lugares conhecidos do anime já faz valer o passeio. 

Ainda que tenha mais prós do que contras, a área aberta do planeta Blue Garden não está isenta de falhas. Seu maior revés, a meu ver, é a composição pobre de seus ambientes, além de alguns trechos do mapa serem grandes planícies mal aproveitadas, compostas por meia dúzia de árvores e inimigos espalhados por todos os cantos. Faltou capricho e, talvez, um pouco mais de investimento. 

Combate variado e com nuances

O combate, por sua vez, tem traços de hack and slash, embora imprima um ritmo próprio, mais cadenciado. Nas duas primeiras horas, fiquei com a impressão de que a dinâmica não sairia do arroz com feijão, mas, felizmente, estava enganado. 

A jogabilidade não só se torna mais complexa conforme aumentamos o nível da party e desbloqueamos habilidades, como também se revela versátil graças aos personagens que compõem nosso grupo. A amplitude dos estilos de jogo consegue acomodar os mais variados perfis, desde jogadores que preferem uma abordagem agressiva até aqueles que se sentem confortáveis atacando de longe. 

Esquivar no momento perfeito, por exemplo, assegura uma brecha para desferir uma sequência de ataques indefensáveis no oponente, um recurso herdado de games hack and slash tradicionais. Só te digo uma coisa: não se deixe levar pelo visual amigável e colorido da aventura. 
Edens Zero, tal como um bom RPG das antigas, nos encoraja a farmar pontos de experiência e obter equipamentos melhores, já que existem picos de dificuldade capazes de dar dor de cabeça até para quem é mais experiente. Estar acima do nível do inimigo, portanto, não é vantagem, e sim obrigação. 

Vale a pena? 

Ciente de suas limitações, Edens Zero não é apenas uma adaptação fiel concebida para ganhar a aprovação dos fãs, mas também um bom RPG de ação que atende, inclusive, ao propósito de conquistar adeptos do gênero, goste você da obra de Hiro Mashima ou não. Dito de outra forma, Edens Zero é, surpreendentemente, mais que um jogo de anime padrão e tira leite de pedra com os recursos que possui. 

Nota: 75

Pontos positivos (prós): 

Mundo aberto generoso;Fiel aos acontecimentos do anime; Variedade de personagens para jogar;Textos em português, apesar dos erros de localização;Combate com múltiplas abordagens. 

Pontos negativos (contras):

Certos trechos da área aberta são mal aproveitados; Tecnicamente, um tanto decepcionante.

Uma cópia de Edens Zero foi gentilmente cedida pela Konami para o propósito de análise no PlayStation 5 Pro. O jogo também está disponível para PlayStation 4, Xbox Series S|X e PC.