
21 jul Review: Gaúcho and the Grassland mostra que mais jogos sobre o Brasil devem ser feitos
Desde que vi Gaúcho and the Grassland pela primeira vez, o jogo brasileiro da Epopeia Games chamou a atenção pela sua temática. Afinal, como sou nascido e criado no Rio Grande do Sul, a conexão com o título já estava feita logo de cara.
Mais do que isso, o game também entrou no meu radar com seu gameplay, que pode ser testado numa demo gratuita. Pegando inspiração em jogos de fazendinha, o título te coloca para ser um gaúcho nos pampas, cuidando do gado, fazendo conexões com outros moradores e, claro, tomando chimarrão.
Enquanto a vibe dos trailers pode sugerir que o título é mais um “Stardew Valley da vida”, não se engane: Gaúcho and the Grassland tem uma grande personalidade e mostra como mais jogos sobre o Brasil merecem ser feitos. Contamos abaixo como foi nossa jornada na análise completa.
Uma história cheia de cultura e coração
Focado no single-player, Gaúcho and the Grassland começa de forma familiar para quem já jogou algo no estilo Stardew Valley: você herda uma terrinha deixada pelo seu pai e precisa recomeçar a vida nos pampas. Mas a semelhança para por aí. A jornada se transforma rapidamente em diferente, à medida que o jogo revela três regiões inspiradas no Rio Grande do Sul, todas com problemas misteriosos após a ausência de seus antigos guardiões.
Cabe ao jogador entender o que está acontecendo e ajudar a população local — tudo isso cercado por elementos autênticos da cultura gaúcha. Lendas regionais, expressões típicas, chimarrão e até um plano espiritual fazem parte da experiência. Para quem cresceu no Sul, como eu, é impossível não se emocionar com a representação. Eu chorei logo na introdução. Ver minha cultura ali, com tanto carinho, foi algo raro e tocante.
Essa experiência mostra como é importante que mais estúdios brasileiros façam jogos sobre o Brasil e seus moradores. Contar as nossas histórias, representar o nosso povo, é importante para mostrar a mais pessoas o valor e o alcance dos games.
Contar as nossas histórias, representar o nosso povo, é importante para mostrar a mais pessoas o valor e o alcance dos games.
Mas o jogo vai além da nostalgia: ele também serve como um convite educativo e afetivo para quem não conhece o Rio Grande do Sul. Um retrato sensível e divertido de um Brasil que raramente aparece nos videogames.
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Jogar com empatia é o grande diferencial
Na prática, Gaúcho and the Grassland se afasta da agricultura tradicional e aposta na coleta e na pecuária. Seu personagem — que pode ser personalizado, assim como o cachorro e o cavalo companheiros — explora o mundo para ajudar os moradores, construindo estruturas e coletando recursos.
Um ponto interessante é que não há dinheiro: todas as trocas são feitas via permuta, o que reforça o tom de simplicidade e autenticidade do jogo. Já a exploração é livre, com três grandes áreas afetadas pelo Boitatá, figura do folclore brasileiro. Para enfrentá-lo, no entanto, não há combate: a briga acontece de forma simbólica, em labirintos espirituais abertos na base da compaixão, onde amuletos são sua principal arma.
Durante toda a jornada, senti que estava vivendo algo próximo de Avatar: A Lenda de Aang, com um toque do Superman de James Gunn. Você ajuda todos, mesmo quando os pedidos parecem bobos — porque o jogo não está interessado em te transformar num herói badass, mas sim num ser humano melhor.
Esse ciclo de gameplay é simples, mas envolvente e recompensador. E mesmo após concluir os objetivos principais, há missões secundárias que garantem pelo menos umas 10 horas de conteúdo. O único ponto negativo vai para o balanceamento de certos itens, como o chimarrão, que exigem várias missões e conexões antes de serem desbloqueados. É legal ver o jogo valorizar o tempo do jogador, mas em alguns momentos, a recompensa poderia chegar um pouco antes.
Visual com identidade própria e trilha de CTG
Quando o assunto são gráficos, a direção de arte de Gaúcho and the Grassland é simples, mas cheia de charme. Os personagens têm um visual caricato, mas expressivo, e o jogo oferece diversas opções de customização, incluindo cores temáticas do Inter e do Grêmio — um detalhe que mostra o cuidado com os pequenos gestos culturais.
A trilha sonora também é um destaque: músicas com cara de CTG, ritmo envolvente e temas que conversam com a cultura do Rio Grande do Sul, incluindo muitas pitadas de humor. A dublagem, por sua vez, é um show à parte. Com vozes carregadas de sotaque e muito carisma, os protagonistas possuem personalidade e te fazem querer ouvir cada pequena interação.
Durante o período de lançamento, porém, o jogo contava com alguns bugs complicados, incluindo alguns que atrapalhavam a progressão. Felizmente, a equipe da Epopeia já está trabalhando em correções e lançou patches que melhoraram muito a experiência com o game.
Outro ponto que vale ser mencionado é a performance. Em um PC de ponta, o jogo entregou uma experiência excelente, incluindo suporte para ultrawide. Por outro lado, o jogo roda travado em 30 quadros por segundo no Steam Deck, algo que poderia ser melhor.
Vale a pena?
Gaúcho and The Grassland traz uma experiência rica em cultura, acompanhada de um gameplay divertido e cativante. Para quem é gaúcho, como é o meu caso, a experiência é indispensável e pode render muita emoção.
E para quem curte jogos com temática de fazenda, o título da Epopeia Games traz um gameplay interessante e que pode agradar, mesmo com algumas limitações. Se você quer saber mais sobre a cultura do Rio Grande do Sul de maneira fofa e interativa, a jornada é super indicada.
Para quem é gaúcho, como é o meu caso, a experiência é indispensável e pode render muita emoção.
Mesmo com alguns pequenos problemas de balanceamento e bugs no lançamento, o jogo da Epopeia Games brilha pelo que entrega: carisma, autenticidade e um gameplay que valoriza empatia acima de tudo — algo de extrema importância em tempos divisivos como os atuais. E, considerando o preço acessível, o custo-benefício é excelente, especialmente se aparecer em promoção.
Nota do Voxel: 90
Pontos positivos (prós):
História rica em cultura;Estilo gráfico bonito e cheio de carisma;Trilha sonora encantadora;Gameplay divertido.
Pontos negativos (contras):
Bugs que já estão sendo corrigidos;Demora para fazer o chimarrão.
Gaúcho and the Grassland está disponível para jogar no PC, e uma demo grátis pode ser baixada na Steam. Uma cópia do jogo foi cedida para review pela Epopeia Games.