
22 jul Review: Shadow Labyrinth é um metroidvania formulaico com requintes de Pac-Man
É fato que nossos olhos já viram de tudo dentro do gênero metroidvania, sem dúvidas um dos mais prolíficos dos videogames. Dado o grande volume de produções do estilo ao longo dos anos, sobretudo na Steam, ficamos, de maneira instintiva, mais exigentes – isto é, nossa barra de rigor nunca esteve tão alta.
Isso significa que nosso cérebro está condicionado a não se surpreender com tanta facilidade, pois já acumulamos inúmeras referências desde Castlevania e Metroid. Não sei você, mas eu tenho a impressão de que, todos os dias, um novo metroidvania é lançado por aí – se a gente procurar direito, pode até ser que isso seja verdade.
A Bandai Namco também quis entrar na festa da buscação e decidiu revirar seu baú de franquias icônicas para dar novo fôlego ao Come-Come, apostando em um formato de jogo com o qual não está tão familiarizada. Produzido por Seigo Aizawa, mentor de Pac-Man 99, com a colaboração de Katsuhiro Harada, lendário diretor de Tekken, Shadow Labyrinth é um bom, porém previsível game de ação e plataforma 2D. Confira mais detalhes na análise completa a seguir!
O mascote dos arcades sob outra ótica
Se você assistiu ao episódio “Circle”, da série antológica Secret Level, produzida pela Amazon, já tem uma boa ideia do que esperar da narrativa de Shadow Labyrinth. Devo confessar que, assim como no caso de “Circle”, que serve como um prólogo do jogo, a história não me pegou, especialmente pela forma como é construída. A mudança na roupagem de Pac-Man, entretanto, é admirável.
Num tom atmosférico e sombrio, à la Metroid das antigas, somos convidados a assumir o controle de Swordsman No. 8, um espadachim sem memória que desperta em um planeta alienígena. Sua única aliada é uma familiar bolinha amarela que, aqui, exibe um comportamento suspeito e parece manipulá-lo em benefício próprio – ou talvez tenha motivos ocultos para isso.
Apesar de ter minhas ressalvas quanto à história, ou melhor, à maneira como é desenvolvida, com diálogos desconexos e personagens que surgem do nada para dizer meia dúzia de linhas abstratas de texto, o título acerta em cheio na atmosfera, nos incentivando a conhecer o mascote dos arcades sob outra perspectiva – que é o que torna a jornada instigante.
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Navegação labiríntica, mas a que custo
Se pensarmos nos principais elementos que definem um metroidvania, combate, level design e exploração são os ingredientes que me vêm primeiro à cabeça – a meu ver, os principais que compõem a receita do gênero. Imagine uma lista de requisitos em que cada elemento de gameplay é assinalado com um “X”. O único campo vazio na ficha de Shadow Labyrinth é, por incrível que pareça, o de level design.
Confuso, o mundo é um emaranhado de corredores tediosos, longos e com poucos checkpoints. Todas as áreas interconectadas parecem ter sido esticadas – como quando você alonga algo no Photoshop – para inflar o tempo de jogatina, fazendo com que o vai e vem seja desgastante ao máximo, mesmo com tantos segredos a serem descobertos.
O mapa também não ajuda e, às vezes, mais atrapalha do que orienta. Isso porque muitas das zonas são divididas em camadas, e navegar entre elas pode virar um entediante quebra-cabeça. Mesmo assim, ele cumpre seu papel ao sinalizar pontos de interesse, missões e locais em que as habilidades do protagonista são incompatíveis.
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Tem Come-Come clássico também
Enquanto o level design não faz jus à grandeza da série, a exploração de Shadow Labyrinth ao menos sabe recompensar, oferecendo itens de melhoria e artefatos equipáveis sempre que possível. Embora a missão principal seja linear e exija que o jogador siga em linha reta, os recursos desbloqueados ao longo do caminho nos estimulam a revisitar áreas anteriores em busca de vantagens.
A exploração se destaca quando nos presenteia com fases na estrutura clássica do Come-Come, cada qual com sua própria dinâmica, trazendo, inclusive, batalhas recheadas de easter eggs contra os fantasmas. É como se houvesse um outro game dentro de Shadow Labyrinth, ainda que essas sessões nostálgicas com o mascote da Bandai não sejam tão frequentes, infelizmente.
Também há trechos em que controlamos a bolota amarela para superar obstáculos de plataforma, mas esses momentos podem ser frustrantes devido à imprecisão das ações do personagem ao executar pulos e ataques sobre os trilhos. Ainda assim, a quebra no ritmo do metroidvania tradicional é bem-vinda, só é preciso um pouco de paciência.
Combate na régua
Desde o lançamento de Hollow Knight, virou clichê comparar qualquer metroidvania com a obra irretocável da Team Cherry. Por mais batido que seja esse parâmetro, Shadow Labyrinth realmente tem um combate semelhante – e, por isso, excelente – não apenas pela cadência do combo de três golpes do espadachim No. 8, mas também pela forma como suas habilidades evoluem ao longo da jornada.
É possível equipar modificadores permanentes ou temporários, seja para ampliar o alcance de uma acrobacia, por exemplo, ou aumentar a janela de execução da técnica da aparar. Como de praxe, também podemos aumentar a barra de vida do nosso enigmático herói, assim como o poder da sequência de seus ataques básicos.
Vale dizer que as melhorias não são meros enfeites e, de fato, fazem toda a diferença, já que a dificuldade de Shadow Labyrinth não está para brincadeira, principalmente nas batalhas contra chefes — desafio que se agrava pela distância entre os pontos de salvamento, o que, em determinado momento, pode se tornar irritante.
O pulo do gato do sistema de batalha é a forma GAIA, capaz de transformar nosso miúdo protagonista em um imponente mecha com visual digno de Gundam. Sua principal habilidade é devorar inimigos para extrair materiais usados em upgrades, adicionando uma camada extra à progressão. Como o uso é limitado à barra de especial, é fundamental recorrer ao GAIA com parcimônia para não ficar sem essa valiosa carta na manga.
Vale a pena?
Por mais que apresente nítidos problemas estruturais e um level design bem aquém de outros games do gênero, inclusive de menor escopo e investimento, Shadow Labyrinth cumpre quase todas as exigências de um bom metroidvania.
Com picos da nostalgia reconfortante do comedor de fantasmas, exploração recompensadora e combate redondo, a experiência não se isenta de tropeços (alguns que eu consideraria amadores), mas é o tipo de projeto autoral que queremos ver mais produtoras do calibre da Bandai Namco desenvolvendo.
Nota: 75
Prós (pontos positivos):
Combate redondinho;Momentos nostálgicos que remetem aos jogos clássicos;Exploração recompensadora, apesar do level design falho;Progressão mais robusta do que aparenta;
Contras (pontos negativos):
Problemas estruturais gritantes;Desafios de plataforma podem ser frustrantes; Diálogos monótonos.
Uma cópia de Shadow Labyrinth foi gentilmente cedida pela Bandai Namco para o propósito de análise no PlayStation 5 Pro. O jogo também está disponível para Xbox Series S|X, Nintendo Switch, Nintendo Switch 2 e PC.