
29 jul Devs e gamers protestam contra empresas de pagamento após banimento de jogos adultos
Grupos formados por jogadores, desenvolvedores, ativistas e artistas dos mais variados setores iniciaram protestos coordenados contra empresas de processamento de pagamentos. O motivo da reclamação é a recente campanha de uma organização contra games de temática adulta.
Os manifestantes se reuniram em redes sociais e subfóruns como o Reddit para organizar informações de contato de companhias como Visa e Mastercard, líderes em bandeiras de cartões de crédito, e serviços online de transferência, como PayPal e Stripe.
Good morning. Did you call your local censorious payment processor and let them know you’re upset with their bullying of Steam and itchio? No time better than the present
yellat.money
— Ana Valens | 🔞 (@acvalens.net) 25 de julho de 2025 às 10:05
A campanha envolve entrar em contato com essas marcas por meios legítimos, como telefones de serviços de atendimento ao consumidor (SAC), visto como mais eficientes do que emails e outras formas de atendimento.
Na conversa, a ideia é deixar evidente a insatisfação contra a pressão feita por essas companhias em plataformas como Steam e itch.io, que resultou na remoção em massa de games do catálogo ou das buscas desses serviços, e solicitar uma mudança mais transparente nas políticas contra as plataformas.
Pressionar as plataformas de pagamento é visto como uma ação importante, já que são essas as companhias que de fato “forçam” as plataformas a revisarem as políticas. Elas são serviços essenciais para movimentação financeira de lojas — e a falta de opções de pagamento impactaria o serviço como um todo e em especial desenvolvedores independentes, que muitas vezes dependem de um único game em um só canal de distribuição como fonte de renda.
Quem pediu o banimento?
Já o Collective Shout, movimento conservador acusado de promover a censura contra lojas digitais a partir do uso de bandeiras sociais legítimas, se defendeu das ações que iniciaram toda a polêmica e rejeitou a acusação de censura.
De acordo com o grupo de origem australiana, a ideia é combater “jogos adultos que apresentam violência não consensual contra mulheres“, inclusive temas como abuso infantil, estupro e incesto. A pressão contra as plataformas de pagamento teria sido feita porque o Steam “ignorou por meses” os pedidos do grupo.
Imagem: Reprodução/itch.io
A Valve, dona da plataforma Steam, não se manifestou oficialmente sobre o caso para além de publicar novas diretrizes de publicação de games no serviço. Já o itch.io, mais voltado para projetos experimentais e independentes, “tomou a decisão de remover todo o conteúdo inseguro para consumo no trabalho (NSFW, na sigla original em inglês)” sozinho.
A loja digital explicou em uma sessão no site que “teve que agir com urgência” para não perder o suporte das empresas de pagamento, o que na prática significou tirar a visibilidade temporária de games que não deveriam ser afetados pela campanha.
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Por ser uma plataforma voltada para conteúdos postados por usuários com menos barreiras que a Steam, a loja alega que precisará fazer uma auditoria minuciosa para chegar aos critérios solicitados. Sobre as acusações de que conteúdos comprados foram removidos da biblioteca de usuários, a itch.io diz que isso não deveria acontecer e recomenda contato direto com o suporte.
O que dizem as empresas
Segundo o Polygon, uma resposta padrão tem sido enviada a quem envia emails para a Visa sobre o tema para as companhias de cartão. O texto diz que a empresa “não faz julgamentos morais em compras legítimas de consumidores“, mas “proíbe explicitamente atividades ilegais” que movimente dinheiro por meio do serviço.
“A Visa não modera o conteúdo vendido por comerciantes e nem temos visibilidade dos bens ou serviços específicos vendidos quando processamos uma transação. Quando um comerciante que opera legalmente enfrenta um risco elevado de atividade ilegal, exigimos salvaguardas reforçadas para os bancos que os apoiam”, diz o comunicado.
Manifestantes que ajudam na organização da campanha pedem aos participantes que sejam “cordiais e tranquilos” nas chamadas e não ameacem os funcionários do atendimento, por mais que o tema seja sensível.
Relembre o apagamento de jogos de Steam e itch.io
Toda a controvérsia começou a partir do fim de março de 2025, quando jogadores e ONGs que incluem o Collective Shout iniciaram uma campanha de repúdio contra um jogo chamado No Mercy. O título trazia temas como incentivo à violência sexual e envolvia ações criminosas explícitas. Ele foi retirado dos catálogos de plataformas em abril;A partir deste ponto, o grupo passou a identificar outros jogos considerados impróprios na Steam e solicitar a remoção deles pela plataforma — alguns supostamente enquadrados como impróprios de forma incorreta, segundo relatos;Vários dos títulos no catálogo da Steam de fato apresentam conteúdos que vão contra as próprias políticas da plataforma e estão em fase de remoção. Porém, outros games afetados trazem representações de conteúdos sexuais ou outras temáticas adultas que não são consideradas criminosas — mas representam expressões artísticas e sociais de grupos já marginalizados pela sociedade, como a categoria LGBTQIA+ ou a comunidade furry, por exemplo. Pornografia e outras atividades, mesmo que restritas por classificação indicativa e barreiras etárias, também são alvos do Collective Shout;
O argumento desse setor da comunidade gamer é de que as campanhas possam não terminar apenas na remoção de títulos de fato criminosos, mas incluam também o apagamento de títulos legítimos que apresentem temática mais madura. Anos atrás, por exemplo, o mesmo grupo fez uma campanha contra Detroit: Become Human, da Quantic Dream;Após não ter as reivindicações iniciais atendidas, o Collective Shout passou a pressionar as empresas de pagamento para “parar de facilitar pagamentos e o lucro” desses jogos no Steam, em uma ação que foi atendida por essas marcas;A Steam passou a restringir “certos tipos de conteúdo exclusivo para adultos” que possam “violar as regras e os padrões estabelecidos pelos processadores de pagamento”, sem detalhar exemplos desses títulos;Dias depois, a itch.io “desindexou” todo o conteúdo sinalizado como NSFW ou adulto do serviço, ação que envolve esconder esses games de resultados de busca, e anunciou uma revisão do acervo para não perder o suporte dos pagamentos;
Qual é o seu posicionamento sobre esse tema delicado e as ações tanto das organizações quanto dos gamers? Argumente nas redes sociais do Voxel e TecMundo!