Review: Ninja Gaiden Ragebound retorna ligado no 220 e já nasce clássico

Acho que falo por todos quando digo que o mundo estava triste com a escassez de Ninja Gaiden. Tudo bem que tivemos a Master Collection, uma coletânea com a trilogia de Ryu Hayabusa, mas isso já faz quatro anos. A título de curiosidade, o último jogo inédito, Yaiba: Ninja Gaiden Z, foi lançado há mais de uma década — o que mostra o quanto nós, fãs, ficamos desamparados nesse longo intervalo de tempo. 

Como diz o velho ditado: “depois da tempestade, vem a bonança”. Demorou, é verdade, porém a bonança veio aí, com nada menos que três títulos da icônica série da Koei Tecmo programados para o mesmo ano: o já lançado Ninja Gaiden 2 Black, Ninja Gaiden Ragebound e, por fim, o aguardadíssimo Ninja Gaiden 4. 

Enquanto as culturas que seguem o horóscopo chinês celebram o Ano da Serpente em 2025, eu comemoro o Ano do Ninja. Ninja Gaiden Ragebound, o único game 2D da tríade deste ano, prova que, quando a franquia tem aura, a perspectiva pouco importa: o jogo já nasce clássico em qualquer formato. Confira a review completa a seguir!

2025, o ano do ninja

A The Game Kitchen, desenvolvedora do excelente metroidvania Blasphemous, abandonou os elementos religiosos e de horror gótico que marcaram a série para internalizar a essência de Ninja Gaiden. O resultado é excepcional: conserva o jeito autoral de fazer jogos 2D do estúdio espanhol, ao mesmo tempo que honra as origens da primeira aventura de Hayabusa, do visual à trilha sonora. 

Construído sob os alicerces do game de NES, Ninja Gaiden Ragebound é um jogo de ação puro, frenético e brutal, que sabe usar a seu favor o que os jogos de sua época tinham de melhor: a simplicidade. Sem firulas, tal como um bom filme de ação oitentista, a jogabilidade corre a mil por hora, imprimindo uma cadência alucinante que faz questão de punir quem fica parado. 

Ninja Gaiden Ragebound é um jogo de ação puro, frenético e brutal.

A campanha de Ragebound é segmentada em fases curtas e lineares, cada qual com seus próprios objetivos e colecionáveis, e pode levar de seis a oito horas para ser concluída. No entanto, esse tempo pode dobrar ou até triplicar caso você queira fazer 100%, uma vez que é preciso obter nota máxima em todos os níveis. Para isso, não basta só decorar o percurso; é fundamental saber lidar com os inimigos da forma mais eficiente possível.

Ligado no 220

O combate é o que a franquia Ninja Gaiden tem de melhor e, portanto, é o ponto nevrálgico de Ragebound. Apesar de os inimigos serem abatidos com um golpe, eles aparecem em grande número, enchendo a tela com Onis que brotam de todos os cantos. É justamente essa salada de frutas de demônios que faz nosso protagonista penar para telegrafar cada padrão de ataque.  

Como todo ninja tem um bom truque na manga, você pode recorrer à hipercarga, uma habilidade que potencializa o dano e a movimentação, sendo ativada ao derrotar inimigos com uma proteção colorida ou ao sacrificar uma parcela da vida do personagem. Trata-se de um artifício muito útil para superar as entidades demoníacas mais resistentes e para preservar o ritmo intenso da jogatina, que aqui ganha uma camada extra de estratégia.

A dificuldade não reside apenas no combate, mas também nos desafios de plataforma. Como mencionei, Ragebound não dá muito tempo para o jogador contemplar as coisas ao redor antes de executar suas acrobacias: você precisa pensar e, sobretudo, agir com rapidez. Por sorte, os pontos de salvamento são generosos e bem posicionados, tornando a experiência um pouco mais convidativa – porque sim, você vai morrer muito.

Inclusive, há recursos que nos permitem ajustar a intensidade dos desafios, seja diminuindo o dano causado pelos oponentes ou ampliando a distância do pulo para que os obstáculos demandem menos piruetas. Também existe um interessante sistema de talismãs, que podem ser equipados para conceder buffs bem-vindos – ou debuffs, se você é o tipo de fã masoquista que quer o grau de complicação no talo.

Assim como nos títulos 3D, o encanto deste Ninja Gaiden em visão lateral está na exigência de fazer quem está no controle não somente dominar suas mecânicas, mas também conhecer cada pixel dos cenários a fim de otimizar sua run. Afinal, repetir estágios faz parte do ciclo de gameplay ao qual a série se apega desde os primórdios – e aqui não poderia ser diferente. 

História? Ah, sim 

Eu estava quase esquecendo, mas, sim, Ragebound tem uma história – com dois finais, aliás. É nesse enredo que somos apresentados a um novo protagonista, Kenji Mozu, aprendiz de Ryu e membro da Vila Hayabusa, que se vê obrigado a unir forças com Kumori, ninja de um clã rival, de modo a impedir a libertação completa do Lorde Demônio. 

Gostei bastante da dinâmica entre os dois personagens e da forma como interagem e se complementam em termos de habilidades, porém, como fã das antigas, confesso que senti falta de ver mais de Ryu Hayabusa, mesmo que sua ausência na maior parte da jornada se justifique dentro da narrativa. 

Mesmo sendo coadjuvante, a trama conspiracionista funciona bem dentro da proposta do jogo e rende cenas que nos instigam a querer saber mais, especialmente nas interações com os agentes do departamento de investigação norte-americano. Como de praxe, o tom é bem canastrão e despretensioso, atuando como epítome dos filmes de ação dos anos 1980 e 1990. 

Vale a pena?

Ligado no 220, Ninja Gaiden Ragebound explode na mente como um gole de café expresso pela manhã: aguça os sentidos nos saltos milimétricos e faz o coração tamborilar no peito durante a carnificina acrobática dos dois ótimos protagonistas, Kenji e Kumori, embora a falta de Ryu Hayabusa seja sentida. 

Sem frescura e focado em ação pura, o novo Ninja Gaiden traz a sensação de um jogo old-school cru, no melhor sentido que isso possa ter, mas com modernidades e o toque de Midas da The Game Kitchen. Eu só queria que Ragebound, com o carinho que demonstra ter recebido, tivesse durado mais, quem sabe com outros modos e fases, para prolongar essa experiência visceral e nostálgica.

Nota: 90

Prós (pontos positivos):

Ação crua, como nos velhos tempos;Dois protagonistas que se complementam;Adiciona modernidades bem-vindas;Dificuldade no ponto;Visual e trilha primorosos.  

Contras (pontos negativos):

Poderia ter durado mais.  

Uma cópia de Ninja Gaiden Ragebound foi gentilmente cedida pela Dotemu para o propósito de análise no PlayStation 5. O jogo também está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch e PC.