Como a Polícia Federal recuperou mensagens criptografadas do WhatsApp de Bolsonaro?

A Polícia Federal indiciou ontem (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por obstruir o avanço das investigações sobre a tentativa de golpe. O relatório foi publicado após a recuperação de mensagens e conversas do WhatsApp a partir do celular apreendido do ex-chefe de Estado.

O documento, identificado como Relatório Final N° 3305694/2025 (Registro Especial 2025.0079964-CGCINT/DIP/PF), traz trechos de diálogos entre Jair e Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente. As conversas mostram discussões sobre a intenção de Eduardo disputar a corrida presidencial de 2026 e indicações de que ambos estavam cientes de sanções comerciais dos Estados Unidos. usadas para interferir em processos judiciais brasileiros.

Leia mais: Aplicativo espião: como identificar se meu celular tem um?Por meio de softwares de extração de dados, a Polícia Federal consegue recuperar mensagens do WhatsApp, mesmo em dispositivos protegidos por senha. (Fonte: Polícia Federal/Reprodução)

Como a Polícia Federal recuperou as mensagens?

Após a liberação das mensagens, uma dúvida surgiu: como foi possível recuperar os trechos, já que o WhatsApp é criptografado? As conversas do WhatsApp realmente são protegidas por criptografia de ponta a ponta e apenas remetente e destinatário conseguem descriptografá-las. Nesse caso de Bolsonaro, não foi a Meta quem forneceu o conteúdo: a Polícia Federal recuperou mensagens diretamente do aparelho apreendido.

“Grande parte das mensagens armazenadas no dispositivo apreendido foram excluídas pelo investigado, sendo recuperadas pelo software de extração de dados, permitindo a análise e contextualização com os fatos sob apuração”, registra o relatório da PF.

Segundo a polícia, diversas mensagens foram recuperadas com sucesso, enquanto alguns arquivos multimídia — como áudios — permaneceram inacessíveis. Isso ocorre porque o banco de dados do WhatsApp armazena metadados sobre arquivos (nome, caminho, tipo, data/hora), e nem sempre mantém o conteúdo multimídia recuperável.

Quais ferramentas a polícia usa?

No relatório, a PF informa ter empregado um conjunto de softwares próprios ou licenciados para extração e recuperação de dados, mas não cita quais ferramentas específicas foram utilizadas.

O Cellebrite Premium é uma das ferramentas de extração de dados mais conhecidas. (Fonte: Cellebrite Premium/Reprodução)

Entre os programas mais conhecidos no mercado investigativo está o Cellebrite Premium, de origem israelense, capaz de desbloquear e extrair evidências de dispositivos iOS e Android.

Ferramentas desse tipo realizam extrações locais do aparelho — consultando o sistema de arquivos e reconstruindo dados excluídos — o que permite acessar conteúdo diretamente do dispositivo, sem interceptar comunicações na rede.

O que é o Cellebrite Premium?

O Cellebrite Premium é comercializado como uma solução para desbloqueio e extração forense de dados em celulares, alegando compatibilidade com várias versões de iOS e Android e com modelos populares de fabricantes. Peritos forenses usam esse tipo de software para recuperar mensagens, histórico de aplicativos e outros artefatos digitais, mesmo em aparelhos protegidos por senha.

O funcionamento detalhado dessas ferramentas é em grande parte sigiloso: as vulnerabilidades exploradas e os métodos de extração são considerados segredos comerciais e não são divulgados publicamente.

Uso anterior e limites da técnica

O uso do Cellebrite e ferramentas semelhantes já foi documentado em investigações anteriores no Brasil, como no caso do homicídio de Henry Borel. Ainda assim, não é possível afirmar publicamente quais métodos específicos foram aplicados em cada operação forense.

E se nenhuma ferramenta consegue acessar o celular?

Quando a extração local não é viável, a investigação pode solicitar judicialmente que plataformas como Meta forneçam dados sob quebra de sigilo. Se o pedido for ignorado ou houver obstrução, a PF pode encaminhar o caso à Justiça, que avaliará responsabilidades — medidas que, em casos extremos, já levaram a bloqueios temporários de serviços em território nacional.

Você pode conferir o relatório completo da Polícia Federal sobre a investigação contra Jair e Eduardo Bolsonaro neste documento.

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