Review: Shinobi Art of Vengeance ensina novos truques a um velho ninja

Não deve ser mera coincidência que dois dos principais ninjas do final dos anos 1980 retornem quase simultaneamente, depois de mais de uma década esquecidos no fundo da geladeira de suas produtoras. O renascimento de Shinobi e Ninja Gaiden, um logo após o outro, parece mesmo um encontro marcado pelo destino.

A volta de dois ícones, Ryu Hayabusa, ainda que como coadjuvante em Ninja Gaiden: Ragebound, e Joe Musashi, o lendário personagem de Shinobi, carimba 2025 como o ano do ninja, um período que promete muitas alegrias aos fãs da temática japonesa, mas que deve, por consequência, drenar cada centavo de nossas carteiras – trabalhamos para isso, afinal.

Assinado pela mesma equipe por trás de Streets of Rage 4, Shinobi: Art of Vengeance preserva a identidade da série oitentista, mas mostra que Joe Musashi, apesar de já estar quase quarentão, ainda tem muita lenha para queimar. Não há hérnia de disco nem dor no ciático que aquiete nosso shinobi favorito desde os tempos do arcade.

Acerto de contas

Como o próprio subtítulo do jogo sugere, o novo Shinobi percorre a jornada de Musashi em busca de vingança. A motivação do shinobi é profundamente pessoal: exterminar a organização paramilitar da ENE Corp. sob o regime do implacável Lorde Ruse, responsável por trazer o caos ao clã Oboro, o grande baluarte da humanidade.

Sem espaço para preenchimentos desnecessários na história, ou seja, sem fillers, a trama flui num ritmo agradável e sempre dá contexto ao próximo objetivo do protagonista. As transições de fases, inclusive, são respaldadas por uma excelente narração em inglês, com ótima localização das legendas em português, ainda que sejam somente artes fixas desenhadas à mão.

A inesperada faceta metroidvania

Ao longo das 16 horas de campanha, tempo que levei para ver os créditos na tela sem cumprir muitas das atividades secundárias, pude percorrer estágios inspirados e engenhosos, de fortalezas japonesas a cidades banhadas de neon, repletos de caminhos opcionais, colecionáveis e um monte de desafios de combate e plataforma.

Numa época em que games estão cada vez mais inflados de conteúdo dispensável, Art of Vengeance se sai bem nesse sentido e oferece uma aventura na medida certa, isto é, que dura o tempo necessário para não cair na repetição excessiva nem no balaio do desinteresse. Vai por mim: você vai se dar por satisfeito.

O que eu definitivamente não esperava, entretanto, era que esse novo Shinobi fosse beber da fórmula dos metroidvanias atuais. Por alguma razão, eu imaginava que ele seria um jogo de ação e plataforma 2D mais linear e direto, algo nos moldes do recém-lançado Ninja Gaiden: Ragebound. Olha, ainda bem que eu estava enganado, já que os dois títulos têm espaço, cada qual com sua proposta – logo, podem coexistir numa boa.

Como um bom metroidvania, mesmo sem um mapa interconectado, Art of Vengeance incentiva o jogador a revisitar fases à medida que Musashi adquire novas técnicas, tanto de batalha quanto de locomoção. Vale reforçar que o backtracking não é necessário para avançar na história: você pode muito bem pular de um estágio a outro, em linha reta, sem se preocupar tanto com o que ficou para trás.

Exploração, desafios e ressalva

A magia, contudo, está justamente em refazer trajetos já conhecidos para descobrir suas nuances. A exploração, aliás, é um pilar central do novo Shinobi, não só pela diversão de esmiuçar cada ambiente, mas, sobretudo, pela forma como o jogo recompensa a quem se propõe a desbravar suas camadas, sejam relíquias para destravar habilidades ou trajes estilosos, meramente cosméticos.

Esteja ciente, porém, que concluir 100% de uma fase exige bastante persistência. Assim como nos games clássicos, os desafios de plataforma estão por todos os cantos e cobram reflexos aguçados, dignos de um ninja de verdade. A dificuldade, em si, não é o problema, e sim o fato de que Musashi é levado ao ponto inicial das sessões acrobáticas sempre que colide com algum obstáculo, um aspecto que, nas missões finais, pode tirar do sério jogadores menos resilientes.

O fator replay, naturalmente, reside na dinâmica de passar outras vezes pelos cenários à procura de segredos. Ao final da campanha principal, os modos Boss Rush e Arcade também são desbloqueados para aumentar a longevidade da experiência. O modo Arcade, à la Shinobi das antigas, concede uma nota pelo desempenho na partida, o que é um baita estímulo para o nicho da velha guarda, do qual faço parte, mais apegado às pontuações dos arcades.

Um homem, uma máquina, uma besta enjaulada

Menos metódico que seus antecessores, Art of Vengeance age como um hack and slash em visão lateral, com foco no corpo a corpo com a katana, mais “cachorro louco”, destoando do estilo centrado em shurikens e golpes à distância do Shinobi original dos anos 1980. Fãs dos títulos anteriores, no entanto, logo perceberão que a essência de Musashi foi mantida, especialmente no que diz respeito à fluidez da movimentação.

Adaptado aos tempos atuais, o grande artifício do combate é a barreira de proteção que envolve os inimigos com uma aura amarela. Quebrá-la dá trabalho e requer que você execute uma combinação perfeita, quase rítmica, entre ataques pesados e shurikens, o que libera uma finalização especial, bem útil, que concede pontos de cura e um bônus extra de moedas ao personagem.

Agora que Musashi está mais ágil, com habilidades pensadas para se aventurar por cenários verticais, as batalhas também incluem sessões aéreas, especialmente nos confrontos contra os chefes. Eles, falando nisso, protagonizam alguns dos segmentos mais empolgantes da jornada e pedem que o jogador mapeie milimetricamente todos os seus movimentos, adicionando mais combustível ao motor da dificuldade.

Apesar do alto nível de desafio, existem recursos de acessibilidade que permitem calibrar o grau de dificuldade. O modo fácil, se é que dá para chamar assim, apenas diminui o dano causado pelos inimigos enquanto os torna mais vulneráveis, mas não tira o brilho e os méritos do vistoso combate. Jogue no fácil, sem vergonha alguma, se preferir.

Vale a pena?

Shinobi: Art of Vengeance compõe o panteão dos jogos de ninja deste ano e se prova um metroidvania autêntico, com muita exploração, belíssima arte desenhada à mão e combate frenético. Musashi demonstra que não envelheceu nada em quase 40 anos e soube se atualizar como um shinobi dos tempos modernos, sem jamais perder a essência que o moldou como mascote da SEGA.

Nota: 90

Prós (pontos positivos)

Combate frenético e mais técnico;Fases inspiradas e engenhosas, com backtracking;Visual que parece uma pintura em movimento;Exploração recompensadora;Modos extras ao final da campanha.

Contras (pontos negativos)

Recomeçar do zero nos desafios de plataforma é um saco.

Uma cópia de Shinobi: Art of Vengeance foi gentilmente cedida pela SEGA para o propósito de análise no PlayStation 5. O jogo também está disponível para PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch e PC.