
10 set Indígenas protestam contra a construção de datacenter do TikTok no Ceará
A comunidade indígena Anacé apresentou uma queixa formal contra a construção do datacenter do TikTok em Caucaia, no Ceará, alegando que a obra acontecerá em suas terras. No documento enviado às autoridades federais, no final de agosto, o grupo solicitou a suspensão imediata dos trabalhos.
No início do mês passado, os indígenas ocuparam a sede da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE) em protesto contra a autorização para a instalação do empreendimento na região metropolitana de Fortaleza. A iniciativa, operada pela empresa de energia eólica Casa dos Ventos, é orçada em R$ 55 bilhões.
A operação do datacenter do TikTok no Ceará está prevista para começar em 2027. (Imagem: Getty Images)
Por que os Anacé querem barrar o datacenter em Caucaia?
Em entrevista ao site Rest of World, o cacique Roberto Ytaysaba Anacé afirmou que a comunidade não foi consultada a respeito do licenciamento para a obra, violando um acordo internacional. Isso aconteceu devido à falta de propriedade oficial da terra, embora antepassados do grupo tenham se estabelecido na região por volta de 1600.
Questões ambientais também são citadas, principalmente em relação ao consumo de água e o histórico de seca na área de Caucaia;A estimativa oficial aponta que a instalação consuma em torno de 30 mil litros de água diariamente, mas o número é contestado, por se apresentar muito abaixo de iniciativas semelhantes;Citando estudos internacionais, o grupo indica o uso de 11 milhões de litros a 19 milhões de litros de água por dia em datacenters com o mesmo tamanho;O líder da comunidade pediu, ainda, que as 1.500 famílias sejam consultadas sobre planos futuros, em um processo seguindo a Convenção da Organização Internacional do Trabalho, que exige a supervisão de autoridades ambientais.
Segundo Ytaysaba, os moradores estão dispostos a dar novos passos para tentar impedir a construção do datacenter do TikTok no Ceará, mesmo que isso represente riscos. Pelo menos sete lideranças do grupo foram incluídas em programas de proteção a defensores do meio ambiente por causa de ameaças de morte.
Bloqueio de rodovias e ocupação de um escritório do governo estão entre as próximas fases planejadas do protesto. Há dois anos, os Anacé processaram uma empresa interessada em erguer uma usina termelétrica no local e comemoram mesmo perdendo o caso, já que a instalação foi levada para outra região.
A comunidade cita preocupações quanto aos impactos ambientais da construção na região. (Imagem: Getty Images)
O que disse o TikTok?
Questionado pela reportagem sobre a consulta à comunidade para o início da obra, o app de vídeos não respondeu, até o momento. Já a Casa dos Ventos informou que a obra não viola as regras de licenciamento ambiental nem se sobrepõe a qualquer território indígena titulado.
É válido destacar que protestos semelhantes têm ocorrido em outros países, diante da alta demanda por datacenters. Em alguns casos, as comunidades indígenas trabalham em colaboração com as empresas, como a Microsoft na Austrália e companhias do ramo no Canadá.
Já em outros, a resistência dos moradores prevaleceu. A Meta precisou arquivar o projeto de um datacenter na Holanda depois de protestos, assim como o Google, que teve a construção de um empreendimento suspensa no Chile por ordem da justiça quando a comunidade descobriu que a instalação gastaria 7 bilhões de litros de água anualmente.
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