Hollow Knight Silksong é lindo, mas decepciona em quesito importante: Análise de Acessibilidade

Após sete anos de desenvolvimento, o tão aguardado Hollow Knight: Silksong finalmente chegou, trazendo Hornet como protagonista. O jogo aposta em combates mais ágeis, um sistema de personalização baseado nas “Partes da Agulha” (em substituição aos amuletos) e a possibilidade de criar itens. O lançamento foi tão impactante que chegou a sobrecarregar as lojas digitais por alguns instantes.

Mas, além de todas as novidades, há um ponto que não pode passar despercebido: a acessibilidade. Ela é essencial para que todos os jogadores, independentemente de suas habilidades, possam aproveitar a experiência completa. Nesta análise, compartilho minhas impressões como pessoa com baixa visão, destacando os recursos que o jogo oferece ou deixa de oferecer para tornar-se mais inclusivo.

Esta análise foi feita com uma chave do jogo cedida gratuitamente pela Nuuvem, na versão para PC via Microsoft Store. A loja brasileira oferece gift cards para comprar o jogo para computador e Xbox, com opção de cashback via drops — confira mais detalhes aqui.

Veja também: Afinal, Hollow Knight Silksong é tudo isso mesmo? Opinião após 30 horas de jogo

Interface

Uma interface bem planejada é essencial para a navegação dentro e fora do jogo. Isso beneficia todos os jogadores, pois influencia diretamente a forma como consumimos informações, seja nos menus de configuração, no inventário ou na leitura do mapa.

Em Silksong, as opções são bastante limitadas. É possível ajustar o tamanho da HUD, facilitando a leitura de informações como a vida da protagonista, além de desligar o tremor de câmera — útil para quem tem enjoo de movimento. Fora isso, não há recursos relevantes, como um filtro para daltônicos ou alto contraste.

Esse detalhe pesa especialmente porque muitos inimigos compartilham paletas de cores semelhantes às de armadilhas dos cenários, dificultando a distinção para pessoas com baixa visão. O ponto positivo fica para as letras dos menus, que são grandes e legíveis. Ainda assim, falta cuidado real com a inclusão na interface, e isso já indica o rumo do restante da experiência.
 

Controles

Os controles são a principal forma de interação com o jogo, e a possibilidade de personalizá-los é crucial para pessoas com deficiências motoras. Em Silksong, as opções se resumem a um remapeamento básico e à possibilidade de desligar a vibração do controle. Ficam de fora recursos importantes como:

Automatização de comandos (manter pressionado em vez de apertar repetidamente, e vice-versa); Presets adaptados para quem joga apenas com uma mão; Ajuste da zona morta do analógico.

Essas personalizações fazem toda a diferença para jogadores PCD, mas infelizmente não estão presentes aqui.

Dificuldade e Gameplay

Acessibilidade não significa ter um “modo fácil”, mas sim oferecer ferramentas que adequam a experiência a diferentes tipos de jogadores com deficiências visuais, cognitivas, auditivas ou motores. Como Silksong não apresenta recursos específicos de acessibilidade, resta analisar os níveis de dificuldade.

Assim como seu antecessor, o jogo é bastante desafiador e não traz ajustes de dificuldade. Isso não seria um problema se houvesse outras opções inclusivas, mas não é o caso. É decepcionante, especialmente quando vemos exemplos como Dead Cells e Prince of Persia: The Lost Crown, metroidvanias que conseguem manter seu estilo sem abrir mão de recursos inclusivos.

Outro ponto frustrante é que mecânicas que poderiam ajudar na acessibilidade como viagem rápida, bússola ou marcadores de mapa existem, mas estão presas a desbloqueios pagos com moeda do jogo. Ou seja, para tornar a experiência mais acessível, é necessário “comprar” melhorias dentro da própria campanha. Seria muito mais justo oferecer essas funções básicas como opções de acessibilidade desde o início.

Vale a pena?

Normalmente, sou mais compreensivo ao avaliar jogos indie, ciente das dificuldades de orçamento e produção que pequenos estúdios enfrentam. No entanto, esse não é o caso de Silksong. O Team Cherry teve tempo e recursos, afinal, o título anterior rendeu cifras milionárias, e o desenvolvimento se estendeu por sete anos, sem relatos de crunch.

A impressão que fica é que a acessibilidade simplesmente não fez parte do planejamento da equipe. E isso é grave. Um jogo independente continua sendo um produto de consumo, e a inclusão deveria estar ao menos minimamente considerada.

“A impressão que fica é que a acessibilidade simplesmente não fez parte do planejamento da equipe”

Diante disso, não posso recomendar Hollow Knight: Silksong para jogadores com deficiência. Embora o jogo esteja disponível no Game Pass e com preço acessível em várias plataformas, ele não entrega os recursos necessários para ser chamado de inclusivo.

Para quem busca apenas um metroidvania desafiador, Silksong certamente cumpre o papel. Mas, para jogadores PCD, a realidade é outra: este não é um jogo acessível. Para mais análises de acessibilidade como esta, continue acompanhando o Voxel e o TecMundo.