Review: Ghost of Yotei é sequência óbvia e que aposta em zona de conforto

Uma das coisas mais legais ao acompanhar as novidades dos videogames é quando um estúdio conhecido consegue emplacar uma franquia completamente inédita. Foi isso que a Sucker Punch, responsável pelas séries InFamous e Sly Cooper, concretizou com o lançamento de Ghost of Tsushima em 2020. É um sentimento de descoberta muito bem-vindo, especialmente em um segmento tão saturado quanto o de games triplo-A.

Na ocasião, o jogo de samurai errante era diferente de tudo que o estúdio já tinha produzido e chegava para abocanhar uma demanda de longa data do público. Mas não é de se apagar seu mérito: o título trazia as belíssimas paisagens japonesas com uma qualidade técnica invejável, abraçando uma filosofia de design de exploração divertida e um gameplay que fazia os jogadores se sentirem em um verdadeiro filme de Akira Kurosawa.

Com a boa recepção, era apenas questão de tempo até que uma continuação viesse à tona — e aqui estamos, cinco anos mais tarde, às vésperas da estreia de Ghost of Yotei. 

Após cerca de quarenta horas de jogatina, minha percepção é de que o game é uma sequência previsível em todos os sentidos. Ele não larga a mão do que deu certo no antecessor (e faz isso muito bem), mas parece ter medo de ir além na fórmula e assumir riscos. Se isso se traduz como algo positivo, depende do quanto você se divertiu no título anterior e está disposto a “repetir a dose”.

Um mundo aberto feito do jeito certo

Vale começar este texto pelo ponto que mais se destaca em Ghost of Yotei: a sua exploração. Assim como seu antecessor, o jogo entrega um mundo aberto que salta aos olhos não apenas pela sua beleza, mas também pela forma orgânica com que diferentes atividades surgem pelo caminho. Muitas delas já estavam disponíveis no primeiro jogo, como desafios de bambu, fontes termais e tesouros de raposas, mas são mais bem distribuídas e dosadas com outros conteúdos.

Sempre haverá algo ao horizonte que chama a sua atenção e o jogo se utiliza de mecanismos muito engenhosos para guiar o jogador aos objetivos: o vento e até mesmo animais silvestres. O game dispensa elementos de interface invasivos, como é comum no gênero, e delega essa tarefa a dicas visuais que são muito mais contextuais e charmosas

Nada disso é novidade para quem já jogou Ghost of Tsushima, mas, em Yotei, há várias conveniências para tornar a exploração ainda mais satisfatória. A principal delas é a presença de vários campos floridos que formam espécies de trilhas. Ao percorrê-las a cavalo, o jogador ganha um aumento considerável na velocidade. Isso também vale ao pular obstáculos e coletar plantas e outros itens enquanto estiver cavalgando. São coisas que não apenas tornam o cenário mais bonito, mas que também têm utilidade prática.

Há até mesmo uma luneta para marcar seus destinos sem a necessidade de abrir um mapa. Isso torna a travessia do ponto A ao B muito mais contemplativa e engajante. A maior parte da minha diversão com o game foi realizando atividades secundárias, andando sem rumo pelo mundo e deixando os encontros ao acaso me guiarem. Muitas vezes os NPCs que eu ajudava davam pistas da localização de santuários, que destravam novas técnicas, então o sentimento de recompensa é constante.

Os únicos momentos da exploração que me desagradaram foram os que exigiam escalada. Eles são relativamente frequentes e não são responsivos quanto deveriam. Os saltos muitas vezes são desengonçados e acabam causando quedas involuntárias, tornando a tarefa desnecessariamente frustrante. Também existe o problema de que nem sempre os pontos de escalada são bem demarcados, então leva tempo até entender por onde o jogo quer que o jogador siga.

Narrativa pouco inspirada

Agora falando da narrativa, Ghost of Yotei segue a velha premissa da “jornada de vingança” e acaba caindo em vários clichês. É possível antecipar, sem muito esforço, todos os acontecimentos da trama. O maior crédito que dou à história é o fato de ela girar em torno de uma protagonista feminina, a Atsu, que traz uma mudança de perspectiva muito bem-vinda a uma obra de samurai errante.

Para dar um pouco de contexto, Atsu está em uma missão para encontrar e assassinar um grupo influente de foras da lei mascarados conhecido como “Seis de Yotei”, que foi o responsável por dizimar a sua família quando ainda era uma criança. Deixada para morrer sozinha, ela agora está tão consumida pelo ódio que começam a circular boatos de que ela é, na verdade, um espírito vingativo — e a única esperança de livrar a região de Ezo, atualmente Hokkaido, da ameaça do grupo e do seu líder, Saito. 

É bacana acompanhar o desenvolvimento de Atsu e como ela encara as consequências da sua missão, incapaz de enxergar outros motivos para viver senão sua sede por vingança. No entanto, o texto falha bastante em acender interesse pelos seus personagens, em especial os antagonistas. Seus desfechos muitas vezes são anticlimáticos e suas motivações, pouco aprofundadas — muito disso é uma consequência do pouco tempo de tela que possuem. Não foram raros os momentos em que a minha reação foi apenas: “Ué, mas é isso, já terminou?”

A própria Atsu tem momentos bastante inconsistentes na trama. Enquanto ela desempenha o papel de uma espadachim ameaçadora e muito hábil nas mãos dos jogadores, ela demonstra amadorismo e se expõe de maneira precipitada em cenas decisivas de história. Isso acaba levando a momentos em que o roteiro se arrasta. Felizmente, há outros personagens chamativos que surgem pelo caminho e conseguem carregar a trama, como é o caso da misteriosa e astuta Oyuki. 

Combate traz mais liberdade, mas leva tempo até ficar divertido

O sistema de batalha de Ghost of Yotei é muito baseado na fórmula de reagir aos ataques dos inimigos para aparar, desviar e punir. Enquanto Tsushima trazia um sistema de posturas que dava vantagens contra determinados tipos de armas, Yotei busca adaptar essa fórmula ao introduzir ao menos cinco tipos de armas. É como se fosse um jogo de Pedra, Papel e Tesoura: cada uma tem uma vantagem e desvantagem contra outra arma que o inimigo estiver utilizando.

Por exemplo, inimigos com escudos têm desvantagem contra a kusarigama, uma espécie de foice com corrente. Por sua vez, a kusarigama é fraca contra lanças, enquanto as lanças são fracas contra as katanas duplas — e assim sucessivamente. É um sistema que convida o usuário a prestar atenção no equipamento dos adversários para se adaptar e extrair o seu maior potencial de dano. 

As trocas de armas acontecem de maneira fácil e rápida, em tempo real, bastando pressionar R2 e apertar o botão correspondente à arma desejada. O jogador não começa com todas elas: é preciso encontrar um mestre e aprender o caminho daquela arma para começar a utilizá-la. Por isso, leva tempo até reunir seu arsenal e deixar o combate mais dinâmico.

Embora tenha cinco armas para aprender e várias ferramentas complementares, eu sinto que Ghost of Yotei deixa muito a desejar na variedade de ataques. As sequências são muito simples e rapidamente ficam repetitivas. Seria mais divertido se houvesse um sistema de combo com variações de ataques ao misturar golpes leves e pesados de maneira ritmada. Para piorar, há confrontos em que os inimigos parecem esponjas de dano, mesmo quando melhoramos nossas armas na forja.

Nos materiais de marketing, algo que chamava bastante a atenção era a cooperação entre Atsu e uma loba com a qual ela cria uma relação de confiança. No jogo, existem atividades em que ela nos guia para acampamentos de caçadores com o propósito de salvar outros lobos que estão presos. Com isso, ela participa ativamente dos combates e libera até mesmo uma árvore de habilidades, podendo surgir organicamente em outros confrontos ao longo da jogatina para ajudar a protagonista.

Se ajudarmos a loba o suficiente, passamos a ter o direito de tocar a sua música tema com um shamisen e convocá-la para um combate. Todas as missões com a loba têm essa premissa de invadir acampamentos de caçadores e resgatar seus semelhantes, mas é muito interessante acompanhar como a confiança entre ela e a protagonista é construída com a agência do jogador — e suas habilidades são realmente muito úteis.

Ghost of Yotei vale a pena?

Não há forma melhor de descrever: Ghost of Yotei é mais de Ghost of Tsushima. É uma sequência que segue à risca aquilo que deu certo no título original, com destaque para o seu mundo aberto engajante e visuais ainda mais incríveis. A qualidade da narrativa deixa um pouco a desejar e o combate, embora mais versátil, também tem seus momentos de repetição, mas a experiência segue sendo o melhor que os videogames têm a oferecer quando pensamos em jogos de samurai.

Se você gostou de Ghost of Tsushima, é muito difícil que não se divirta em Ghost of Yotei. É essencialmente um jogo melhor e mais bem consolidado, embora ainda haja muita margem para melhorias e que infelizmente não foi bem aproveitada.

Nota: 80

Pontos positivos (prós):

Exploração orgânica e sem interrupções;Visuais ainda mais incríveis;Várias atividades recompensadoras;Trilha sonora marcante.

Pontos negativos (contras):

Combate podia ter mais profundidade;Narrativa previsível deixa um pouco a desejar;Momentos de escalada são desengonçados e frustrantes.

A análise de Ghost of Yotei foi possível graças a uma cópia de review antecipada fornecida pela assessoria de imprensa do PlayStation. O jogo chega oficialmente em 2 de outubro de 2025, exclusivamente para PlayStation 5.