
30 set PMEs e a disputa pela principalidade: quem vai liderar o jogo?
Você ainda carrega a visão de que pequenas e médias empresas no Brasil são desassistidas quando o assunto é acesso a produtos financeiros? Talvez seja hora de rever esse olhar. Um cliente me disse recentemente: “Poucos anos atrás, conseguir um cartão de crédito para minha empresa era difícil. Hoje tenho dez na carteira.” Essa frase resume bem o momento de transição que estamos vivendo.
As PMEs deixaram de ser coadjuvantes no sistema financeiro. Estão no centro da disputa pela chamada principalidade: qual será a instituição financeira primária desse segmento. Segundo estudo da McKinsey, as PMEs já representam 16% das receitas bancárias no país e devem chegar a 21% até 2028. É um bolo bilionário que todos querem abocanhar.
Não faltam competidores. De um lado, os bancos tradicionais correm para reposicionar seus pacotes PJ, apoiados em marca, capital e distribuição. De outro, fintechs nascidas para servir PMEs jogam com plataformas mais tecnológicas e ágeis. E surge ainda um terceiro grupo, cada vez mais influente: empresas de software e marketplaces, que estão integrando serviços financeiros em suas plataformas. Não por acaso, 22% das PMEs já consideram fintechs ou marketplaces como sua principal instituição financeira.
Esse movimento não é teórico. Só nos últimos meses, fintechs de gestão financeira como Asaas e Kamino captaram juntas quase R$ 90 milhões em rodadas para expandir produtos e investir em inteligência artificial aplicada ao backoffice das PMEs. A Olist, por exemplo, acaba de adquirir a fintech de crédito Flip para ampliar sua oferta. Essa injeção de capital mostra a confiança dos investidores no potencial do segmento e em teses de embedded finance.
É nesse ponto que as empresas de software se destacam. Quem controla o workflow da PME, das vendas e do estoque às contas a pagar e a receber, tem um conhecimento profundo da operação, a ponto de saber o momento exato em que as necessidades surgem. Isso permite oferecer crédito, antecipação ou conta digital no lugar certo e na hora certa, com muito mais assertividade.
Pense em uma PME recebendo uma oferta de crédito justamente quando o fluxo de caixa está desbalanceado; ou emitindo um boleto que já se reconcilia automaticamente com o extrato e as contas a receber; ou ainda antecipando recebíveis no instante em que emite a nota fiscal. Esses exemplos mostram o poder do modelo. É uma virada de chave para a competitividade das PMEs.
E os benefícios não ficam só para o cliente. Para as próprias empresas de software, o potencial de monetização é enorme: a receita por usuário pode ser mais de cinco vezes maior do que no modelo de licenciamento tradicional.
O movimento faz tanto sentido que bancos e fintechs também estão percorrendo o caminho inverso, adicionando softwares de gestão às suas ofertas. No fim, quem segue no jogo não é quem tem mais capital, tecnologia ou dados isoladamente. É quem consegue dominar a jornada do cliente, transformar dados em inteligência e oferecer soluções financeiras embutidas com velocidade e escala.