Review: jogar Winter Burrow é como ler um livro para crianças

Quando era mais novo, meus pais por vezes reservavam um momento para ler livros infantis para alimentar minha criatividade e interpretação de textos e imagens. Foi essa a primeira sensação que tive ao experienciar Winter Burrow, novo cozy game de sobrevivência da Pine Creek Games.

Poucos gêneros de jogos são tão saturados quanto o de sobrevivência. A fórmula é batida e extremamente fácil de entender, na maioria das vezes: coletar recursos para manter o personagem bem e saudável, enquanto avança na história (se houver). Essa breve descrição permite que vários jogos venham à mente, percebe?

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O que tende a ser um diferencial nesses títulos é a forma com que esses desafios são colocados para o jogador, sejam as mecânicas, visual ou a narrativa inerente ao título. Winter Burrow tenta se destacar na área com alguns caprichos particulares, mas será que é suficiente para valer seu tempo? Entenda nessa review.

Uma história fofa e trágica

Em Winter Burrow, você é apresentado à história de uma família de ratinhos que numa floresta, dentro de um casco de árvore. Aparentemente em busca de uma vida melhor, os pais e o protagonista decidem se mudar para uma cidade próspera nas proximidades.

Em Winter Burrow, você precisa transformar sua toca abandonada em lar de novo. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

Lá, o casal de camundongos adoece gravemente devido ao trabalho exaustivo das minas. Agora, órfão, seu personagem junta as economias da família e decide voltar para sua antiga casa na floresta. Infelizmente, as condições climáticas a deixaram praticamente inabitável, e cabe a você fazer daquilo um lar de novo.

Para isso, você vai contar com a ajuda de outras criaturas que ainda habitam aquela floresta, incluindo sua tia. O caminho é solitário, mas ela fará o possível para cuidar de você.

Um jogo de sobrevivência bem confortável

Geralmente, os principais motivadores de jogos de sobrevivência são o desconforto e o perigo. Seu personagem passa sede, fome, sente frio, calor e cansaço; pode haver também inimigos que ameaçam sua base e seus recursos. É natural que você saia e busque por mais ferramentas para tornar sua sobrevivência mais fácil.

Winter Burrow oferece pouquíssimos desafios, e isso tem seu valor. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

Em Winter Burrow, o nível de risco é reduzido a quase zero. Seu personagem sente fome, mas dificilmente você sofrerá com inanição; há inimigos, mas todos são bem fáceis de lidar e não ameaçam sua base; e a única condição que realmente preocupa é o frio, que também limita o seu tempo fora da toca e o obriga a cadenciar sua busca por recursos.

Seu principal objetivo é desvendar a história da sua antiga casa e estabelecer uma vida confortável para o protagonista. O arco implica em buscar recursos pelo espaço e conversar com vários NPCs, já que eles tendem a dar respostas sobre o que aconteceu com o lugar e fornecer esquemas de itens para decorar sua casa ou facilitar sua sobrevivência.

O combate é irrisório e repetitivo: há somente um botão para golpear, e o gerenciamento de energia é simples. Você deve bater, se afastar e repetir até o inimigo perecer. O gerenciamento de comida também é bastante tranquilo, pois ingredientes são abundantes e você pode preparar várias receitas e deixá-las acumuladas no inventário.

A história do game é simples, e com lições de valor primárias que remetem a livros infantis. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

A única ameaça preocupante no jogo é o frio. Quanto mais tempo passa fora da toca e de ambientes aquecidos, mais frio seu personagem vai sentir. Se a barra de calor chegar a zero, você simplesmente desmaia, volta para a base e os itens são deixados para trás. Você pode recuperá-los depois, obviamente.

Desenhado à mão com capricho

Winter Burrow é inteiro feito em ilustrações feitas à mão. Os cenários, as ferramentas e o protagonista esbanjam uma estética cartunesca que remete a livros infantis simples e amigáveis. A história pode ser triste, mas a estética do jogo torna a experiência doce e amistosa.

Esse parece ser o principal apelo do jogo: a estética e a ambientação. Visualmente, o jogo esbanja personalidade e um estilo único, em moldes que se parecem muito com Don’t Starve, mas bem menos mórbido.

O gerenciamento de espaços no inventário é simples, mas sua mochila é bem pequena.(Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

A música e os efeitos sonoros reforçam essa característica. A trilha sonora do jogo acompanha sua navegação pelo mapa — chegar em casa, por exemplo, engatilha uma faixa diferente.

Nas cenas de diálogo mais envolvente, a tela é tomada por imagens estáticas que detalham melhor os personagens da trama. Esses momentos são os que mais parecem com livros infantis, servindo para enriquecer a trama e permitir maior envolvimento com os personagens.

Um jogo para crianças, ou para quem quer relaxar

Winter Burrow é simples o bastante para ser interessante para introduzir crianças ao mundo dos games. Os objetivos de cada missão são bastante simples, apesar de não serem tão bem explicados quanto poderiam. A trama também se desenrola de forma intuitiva, expositiva e direto ao ponto, ensinando lições como empatia, determinação, família e disciplina.

A simplicidade dos objetivos e dos sistemas de sobrevivência que me despertaram a sensação de que o jogo é para pessoas com pouca familiaridade com o gênero. Por sua vez, a facilidade com os controles sinaliza que é um título amigável para quem tem pouca familiaridade com jogos. É tudo muito rudimentar.

A descrição das missões é bem direta ao ponto, mas não oferecem muitas instruções. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

O que poderia melhorar?

O novo jogo da Pine Creek é lindíssimo, mas poderia melhorar no refinamento de seus principais elementos. Um dos problemas encontrados no jogo é a interface: a tela é cheia de elementos o tempo inteiro e cozy games geralmente são beneficiados por uma UI mais limpa e direta ao ponto.

No layout, também existe outro problema: o redimensionamento de imagens e a falta de opções de ajustes para o tamanho de legendas. Não é possível ajustar o tamanho de ícones, o que pode ser um problema na jogatina na TV; e as letras miúdas também dificultam a leitura nesses cenários.

Além disso, outro problema é o mapa (ou a falta dele). Por vezes, me perdi enquanto explorava a floresta, e o frio me fez correr desesperadamente em busca da toca que eu nunca mais encontrei. Os NPCs também não ficam bem marcados no mapa, então encontrá-los pode ser uma dificuldade posteriormente, principalmente para jogadores recém-chegados.

É óbvio que nem todo jogo precisa ter um mapa, mas Winter Burrow não oferece nenhuma forma de localização senão as próprias pegadas (que, por si só, são bem inconsistentes e nada confiáveis). Você precisa decorar o caminho usando os pouquíssimos pontos de referência disponíveis, já que o cenário é bem repetitivo.

Não é possível ajustar o tamanho de fontes ou remapear controles. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

Uma solução interessante seria um mapa disponível exclusivamente na toca, obrigando você a definir um objetivo antes de sair em uma aventura; alternativamente, o jogo também poderia oferecer alguma ferramenta para a criação de pontos de referência, como sementes para plantas específicas ou placas de localização — que, de certa forma, combinam com a estética do jogo.

Vale a pena?

Winter Burrow é um jogo simples, fácil de entender e bem curto. É um cozy game para quem aprecia títulos com estética própria caprichada e feita à mão.

Concomitantemente, é um jogo bastante amigável, fácil e acessível que, de certa forma, também pode servir como porta de entrada de crianças para games. Afinal, ali não existem microtransações ou sistemas muito avançados, tampouco violência explícita ou temas sensíveis. É a história de um ratinho que busca por um lar após a perda dos próprios pais, e há muito o que se extrair dessa narrativa.

Como dito no começo do texto, é como se fosse um livro para crianças — desde o visual à construção da história. O arco dos personagens é fácil de compreender, a estética do jogo remete a livros infantis e há lições de valor primárias que podem ser extraídas do título, como perseverança e disciplina. As lições de um jogo de sobrevivência, como gerenciamento de recursos, localização e tomada de decisão, também são bem úteis.

Apesar disso, a execução ainda poderia melhorar em alguns aspectos. Alguns elementos e melhorias de qualidade de vida seriam bem interessantes para tornar a jogatina mais confortável.

De qualquer forma, é um jogo bem barato. Na Steam, Winter Burrow é vendido por R$ 54,99; no Xbox, R$ 97,95; e, no Nintendo Switch, R$ 53,99. Felizmente, porém, o título também está disponível no Xbox Game Pass, então você pode jogá-lo no console ou no PC por meio da assinatura.

Nota: 60

Prós:

Lindo visual e boa trilha sonora;Sobrevivência sem tensão;Narrativa simples, acessível e com bons ensinamentos;Controles simples.

Contras

Sistemas de sobrevivência muito simples;Interface carregada de elementos e sem opções de redimensionamento;Objetivos com descrições ambíguas;Problemas de navegabilidade pela falta de mapas ou recursos de localização;Não é possível remapear botões.

Winter Burrow foi cedido ao Voxel pela Pine Creek Games para análise no PC. O jogo foi testado em um computador equipado com Ryzen 5 3600, Nvidia RTX 2060 Super, 16 GB de RAM e SSD.

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